Monica De Bolle: Quem é Guedes mesmo para ter detratores?
Da coluna de Monica De Bolle no Estadão:
Quando escrevi o título desse artigo me veio à mente nome de minissérie. Não de uma boa minissérie, aquelas que prendem você, que torturam, que não te deixam largá-la. Não. O que me veio à mente foram aquelas outras, com enredo mal feito, cheio de histórias paralelas que nada têm a ver umas com as outras, repletas de personagens fantoches, rascunhos de pessoas. Os Detratores de Guedes. Quem é Guedes mesmo para ter detratores? Ah é, ele é ministro da Economia. Mas ministro da Economia tem detrator? Detrator? Pessoas que vivem a falar mal de sua aparência, sua maneira de se vestir, seu corte de cabelo. Tem? Deve ter. Mas a lista que vi, a dos tais detratores, era um rol de pessoas que costumam criticar as medidas e as posturas de Guedes. Ora, pessoas públicas, como o ministro, têm críticos.
Os detratores de Guedes. Fizeram relatório e tudo, com 81 nomes. Para mandar material explicativo, disseram. Para enviar encartes do governo e papéis lustrados sobre os afazeres do ministério, suas batalhas, suas vitórias. Gastaram alguns milhões de reais para preparar o relatório. Haverão de gastar um tanto mais para a elaboração e o envio do extenso material supostamente elucidativo. Material para convencer os detratores a tratarem bem o ministro, pobre do ministro. Disseram que esse tipo de documento é normal, que outros governos costumavam fazer o mesmo. Disso, confesso que nada sei. O que sei é que preparar um relatório identificando nominalmente jornalistas, acadêmicos e pessoas que participam do debate público, e, ainda por cima, sugerir no documento que alguns indivíduos sejam monitorados não pega bem. Senti uma lufada de intimidação, e olha que nem da lista constava. Sorte?
A minissérie da economia brasileira regida por Paulo Guedes, sobretudo durante a pandemia, de fato não é nada atraente. Declarações desconjuntadas, falta de estratégia, tentativas de inventar conceitos econômicos de todos os tipos. Claro, houve o auxílio emergencial, aquele mesmo que não foi apoiado por Guedes quando o pior se anunciava, aquele que ele tentou eliminar quando o pior ainda não tinha passado, aquele que deve ser extinto daqui a 30 dias se o governo nada fizer.
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