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Moradores de rua de Paris usam Twitter para contar suas histórias

Patrick tem 47 anos. Como a maioria dos franceses, tem um smartphone e uma conta no Twitter. Mas o mais surpreendente é que ele vive nas ruas há mais de três anos. De acordo com um estudo do Instituto Nacional de Estatística francês feito em 2013, ele é um dos mais de 140 mil sem-teto da França. O número dobrou nos últimos dez anos.

“A situação é complicada. É difícil quando se é empurrado para as margens da sociedade”, diz. Antigamente, Patrick trabalhava como motorista de caminhão, mas perdeu a carteira de habilitação. Desde então, ele vive nas ruas. Como também perdeu seus amigos, sua família e sua casa, Patrick não fala com disposição sobre seu passado.

Nos últimos seis meses, ele atuou como membro da iniciativa Tweets de Rue (@tweets2rue). Assim, o morador de rua aprendeu lentamente a falar de novo sobre a própria vida – e a se abrir para a sociedade.

Patrick começou a participar do projeto em novembro do ano passado com o apoio da Cruz Vermelha. A ideia é simples: a campanha deu smartphones a cinco sem-teto e os encorajou a escrever sobre suas vidas no Twitter.

Emmanuel Letourneux é uma das figuras por trás do Tweets de Rue. A inspiração partiu de uma iniciativa que durou apenas 15 dias em Nova York e serviu como base para o novo projeto. Ao contrário do seu correspondente americano, a iniciativa francesa estava planejada para durar, em princípio, seis meses. Agora, ela foi prolongada.

“Um dos objetivos que temos com o Tweets de Rue é que as pessoas ouçam e leiam diretamente o que os moradores de rua têm a dizer”, diz Letourneux. “Além disso, nós queríamos mostrar que existem pessoas muito boas dispostas a ajudar. Pessoas que não se envolveriam com regras de organizações sem fins lucrativos.”

Mas num primeiro momento o Tweets de Rue esteve sob duras críticas. Alguns chamaram o projeto de voyeurista. Os cinco moradores de rua participantes da iniciativa também não estavam certos sobre como o projeto iria funcionar.

“Eu tenho uma relutância em manter muito contato com as pessoas, por isso, estava um pouco cético no início”, diz Patrick. “Mas o projeto me permitiu ver o que as pessoas pensam sobre os sem-teto, e a falar com estranhos. Eu tendo mais a não ter problemas com estranhos do que com pessoas que conheço há muito tempo.”

Após seis meses, Letourneux fala em um completo sucesso da iniciativa. Patrick e os outros quatro moradores de rua têm mais de 10 mil seguidores no Twitter – possivelmente, graças às discussões organizadas mensalmente na rede social. Quanto ao cotidiano fora da plataforma, Patrick viajou pela França e escreveu sobre suas experiências.

“Eu me encontrei com três dos meus seguidores. Ainda um ano atrás eu nunca poderia imaginar algo semelhante para mim. Isso aquece o coração”, afirma. “Eu estava muito sozinho e quebrei todos os laços com meus amigos e minha família. Agora eu tenho novos amigos. São pessoas sinceras que não têm medo de serem honestas comigo.”

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