Moro será questionado hoje no momento mais delicado da trajetória dele

Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Da Folha:
Empossado como superministro e tido como reserva moral do governo Jair Bolsonaro (PSL), Sergio Moro (Justiça) vai ao Senado nesta quarta-feira (19) em seu momento de maior fragilidade.
A partir das 9h, no plenário da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), o ex-juiz da Operação Lava Jato deve atacar a ação de hackers, dizer que não tem como confirmar o conteúdo das mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil e afirmar que as conversas podem ter sido editadas.
A linha é a mesma que o ministro de Bolsonaro tem utilizado desde as primeiras reportagens sobre o caso —e será mantida nos esclarecimentos que prestará aos senadores.(…)
No Senado, Moro deve defender as comunicações informais entre magistrados e procuradores, dizendo ser algo que sempre ocorreu em todos os processos e investigações. Ele afirma que as conversas também eram comuns com advogados e policiais.
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PS: Os senadores devem ter em mente que esta não foi a primeira vez em que Moro foi grampeado e reagiu criminalizando quem divulgou suas conversas. Em 2006, quando conduzia o caso Banestado e outros de grande repercussão em Curitiba, ele teve suas conversas interceptadas e atacou quem acreditava ter sido o autor dos grampos, o advogado Roberto Bertholdo, que nunca admitiu o crime, embora tenha sido preso.
Moro, embora vítima da interceptação, conduziu as investigações como magistrado e só deixou o processo antes da sentença, quando assumiu o processo o magistrado Nivaldo Brunoni, aquele mesmo que aparece em uma das conversas secretas com Deltan Dallagnol divulgadas pelo Intercept.
Em 2017, Brunoni, substituindo João Pedro Gebran Neto no TRF-4, decidiria pelo adiamento ou não do depoimento de Lula. Moro não queria o adiamento e deu dura em Dallagnol, que cogitava concordar com a possibilidade de marcar a fala de Lula para outra data. “Vou valar com o Nivaldo”, disse o coordenador da Lava Jato, admitindo que Moro estava certo – na prática, o juiz se comportava como chefe de Dallagnol.
Em 2006, quem fez a denúncia contra o advogado Roberto Bertholdo foi o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima. Quem defendeu Moro foi Carlos Zucolotto Júnior e sua sócia à época, Rosângela Moro.
Quando o caso bateu no Superior Tribunal de Justiça, um dos ministros que julgaram o caso, Napoleão Nunes Maia Filho, se revelou perplexo, pois nunca havia visto em sua vida uma suposta vítima, no caso Moro, conduzir o processo contra o suposto autor.
O conteúdo dos grampos nunca foi revelado, mas se sabe que há ali conversa dele com Carlos Zucolotto Júnior, que não seria, digamos assim, condizente com a postura de magistrado que deveria manter sigilo sobre os processos que conduzia.
Um jornalista que recebeu cópia dos grampos à época foi chamado, informalmente, ao gabinete de Moro, para ser advertido de que não deveria dar espaço às denúncias de Roberto Bertholdo.