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Morre Charlie Watts, baterista dos Rolling Stones, aos 80 anos

Charlie Watts, em show dos Rolling Stones / Divulgação

O baterista dos Rolling Stones, Charlie Watts, morreu nesta terça (24) aos 80 anos, segundo seu assessor.

“É com imensa tristeza que anunciamos a morte de nosso amado Charlie Watts”, diz um comunicado.

“Ele faleceu pacificamente em um hospital de Londres hoje cedo cercado por sua família.”

A nota diz que ele foi “um querido marido, pai e avô” e “um dos maiores bateristas de sua geração”.

A notícia vem semanas depois de Watts perder as datas da turnê da banda nos Estados Unidos para se recuperar de um procedimento médico não especificado.

A informação é da BBC.

Como os Stones contrariaram tanto as expectativas deles mesmos

Nem eles mesmos concordam sobre a data correta: se em 1962, quando fizeram o primeiro show no mítico clube Marquee, em Londres, ou, como defende Keith Richards, em 1963, quando o baterista mão leve Charlie Watts entrou na banda.

Como sempre em se tratando dos Stones, a empresa mais cínica e pragmática do rock’n’roll, prevaleceram os negócios e a grana.

Então ficou combinado que 2012 seria o ano do cinquentenário. O pontapé inicial das comemorações foi dado ontem com a abertura de uma exposição de fotos na Somerset House, um centro cultural com galerias e restaurantes as margens do Tâmisa.

No final das contas, não importa: contra todos os prognósticos, contra todas as overdoses de Keith e Charlie, contra a velhice, contra o desgaste pessoal e contra eles mesmos (“Prefiro morrer a cantar ‘Satisfaction’ aos 45”, disse Mick Jagger há 40 anos), eles estão aí, nem tão firmes e nem tão fortes, mas em pé e milionários.

Quer dizer, parte deles: toda grande banda tem uma história trágica, repleta de mortos e feridos. Nos Rolling Stones, a grande vítima é Brian Jones, o guitarrista fundador, abandonado pelos colegas Jagger e Richards quando se perdeu no LSD, traído pela namorada Anita Palemberg e pelo amigo Richards numa viagem ao Marrocos.

Brian foi expulso do grupo em 1968. Havia se transformado num boneco hippie inflável, triste, com suas olheiras imensamente profundas, o cabelo principe valente, as roupas coloridas. Foi encontrado boiando na piscina de sua casa meses depois. Tinha 27 anos.

Foi Jones quem deu à banda o nome Rolling Stones. Ou quase isso.

A história mais acreditada é que, quando eles acertaram a primeira gig (apresentação) perguntaram aos garotos como se chamava o grupo para fazer cartazes de promoção. Não se chamava nada.

Brian Jones teria visto no mesmo instante um disco de seu ídolo Muddy Waters em que estava escrito: ‘Rollin’ Stone’. Pronto. Rollin’ Stone. Ou melhor: quase pronto. Logo depois viriam o e o s. Rolling Stones.

O legado dos Rolling Stones

O legado dos Stones é mesmo esse: eles não poupam ninguém. Muito menos a si mesmos.

Diferentemente dos Beatles, seus arquirrivais (de mentirinha, claro, numa jogada brilhante do empresário Andrew Loog Oldham), que vinham de Liverpool, cidade portuária com gente do mundo todo e sons do mundo todo, Mick, Keith e Brian eram garotos da classe média londrina que se apegaram a outro evangelho: o blues de Chicago, elétrico, cujo maior sacerdote era Muddy Waters. Tiveram a sabedoria de não sair muito disso.

Nenhum deles é um virtuoso.

Mick, de carisma gigantesco, é limitado do ponto de vista vocal em comparação até mesmo com seus imitadores, como Steven Tyler, do Aerosmith.

Charlie é da escola de Ringo Starr — preciso e discreto.

Brian Jones, o mais musical, logo veria que não adiantava colocar uma cítara num rock de três acordes.

Os melhores momentos do baixista Bill Wyman eram quando Keith gravava o baixo em seu lugar.

Mas eles são grandes inventores. Primeiro, do roqueiro bandido. Era marketing? Sim.

Quem está falando em arte? Jagger foi o frontman primordial, sexy, perigoso e manipulador.

E Keith inventou o som dos Stones. Basicamente, roubou os riffs do blues, acelerou-os e embranqueceu-os. Gênio da simplicidade, adotou a afinação aberta da guitarra que os negros usavam (ao invés de mi, lá, ré, sol, si, mi, ele afinava de modo a que as cordas soltas soassem já num acorde).

Com esse truque, fez todas as obras-primas nos álbuns clássicos, lançados a partir de 1968 numa sequência memorável: Beggar’s Banquet, Let It Bleed, Sticky Fingers e Exile on Main Street.

Mas que imitação, que autoplágio, que maravilha, que glória dessa indústria do mau comportamento e dessa arte de despertar os deuses com barulho que é o rock’n’roll.