Mulher interrompe aos gritos peça sobre política no Festival de Curitiba
Do UOL:
No segundo dia do 27º Festival de Curitiba, o público se deparou com uma situação constrangedora que fugiu do roteiro da peça “Manual de Autodefesa Intelectual” logo em sua estreia no evento, nesta quarta (28), no Sesc da Esquina. No meio do espetáculo, uma mulher começou a gritar na plateia. Tudo porque a tal espectadora considerou que a encenação do diretor Fernando Kinas falava de política, justamente um dos temas centrais da obra.
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Na hora do berro da espectadora, uma das atrizes da montagem da Kiwi Companhia de Teatro, Fernanda Azevedo (vencedora do Prêmio Shell 2014 de melhor atriz), lia um texto crítico inicial que, normalmente, antecede o espetáculo com assuntos da atualidade sob um viés crítico.
De repente, ao escutar o texto, uma senhora levantou-se de seu lugar e, visivelmente nervosa, bradou, inconformada: “Paguei ingresso para ver teatro e não ouvir sobre política”. A platéia logo se manifestou, vaiando a espectadora e pedindo sua retirada do local em respeito ao restante do público pagante. A espectadora continuou na plateia.
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“Nosso trabalho é fazer uma análise social, política, discutindo sobre a mídia hegemônica e religiões. Precisamos pensar criticamente sobre o mundo em que vivemos. Normalmente, no início da peça lemos um texto, abordando questões políticas atuais. Denunciamos o genocídio da população jovem negra nas favelas e periferias, o assassinato dos rappers de Maricá, falamos do fato de vivermos um governo golpista, a violência contra os candidatos à Presidência da República e, obviamente, sobre o assassinato do Anderson Gomes e da Marielle Franco”, revela a atriz Fernanda Azevedo, que conta como foi o episódio.
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“Eu estava no terceiro ponto da nossa ‘lista de desgraça’, infelizmente, quando essa mulher se levantou, afirmando que tinha pago ingresso para ver teatro e não política. Eu a respondi dizendo que no espaço do teatro discutimos sobre a sociedade, sim. Ela permaneceu até o final. Aqui [em Curitiba] há um histórico mais reacionário. As coisas estavam muito quentes na cidade no dia de nossa estreia”, diz.