Não tivemos “o melhor Enem de todos os tempos” como afirmou Weintraub

Da BBC:
“Tivemos o melhor Enem de todos os tempos, tanto em execução, operação e logística, como também em termos de formulação”, disse o ministro da Educação, Abraham Weintraub, em entrevista coletiva no dia 10 de novembro, data final do Exame Nacional do Ensino Médio de 2019.
Durante todo o mês de novembro, Weintraub repetiu em falas públicas e nas redes sociais que o primeiro Enem sob sua gestão à frente do Ministério da Educação (MEC) seria o melhor exame da história do país.
Especialistas em educação e professores ouvidos pela BBC News Brasil, no entanto, dizem que uma série de imprevistos — alguns com consequências graves, como a atribuição de notas erradas a milhares de candidatos, segundo admitiu o próprio MEC — mostram que a propaganda feita pelo ministro não se confirmou.
Os problemas da edição de 2019 da prova começaram em 1º de abril, com o anúncio da falência da gráfica RR Donnelley, responsável pela impressão do Enem desde 2009.
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Vinte dias depois, o governo anunciou a contratação de uma nova gráfica às pressas, sem licitação. A substituta foi a Valid Soluções S.A., com um contrato de R$ 151,7 milhões.
Hoje, o Ministério da Educação acusa a mesma gráfica pelas “inconsistências” na correção dos gabaritos das duas etapas do Enem. “Aparentemente não foi uma coisa de má fé, foi um acidente, coisa que acontece. Não depende da minha avaliação. A gente vai ver legalmente o que acontece”, disse Weintraub.
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Dança das cadeiras no Inep
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De janeiro a maio de 2019, o órgão responsável pelo Enem foi dirigido inicialmente por Maria Inês Fini, que esteve à frente do Inep até janeiro e apoiou a transição entre os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro.
Depois, quem assumiu foi o professor Marcus Vinicius Rodrigues, exonerado em 26 de março, um dia depois de cancelar a avaliação federal de alfabetização, medida revogada pelo MEC em meio a uma onda de críticas.
Seu substituto, Elmer Coelho Vicenzi, ficou apenas 18 dias no cargo e também foi demitido em meio a uma disputa interna sobre a divulgação ou sigilo de indicadores educacionais produzidos pelo órgão.
Em seguida assumiu o engenheiro químico Alexandre Lopes, que segue no cargo.
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Vazamento da redação
Além da contratação da gráfica sem licitação e da falha na correção, o Enem deste ano também teve o vazamento de uma das páginas do primeiro dia de provas, 3 de novembro.
A foto da página que continha a prova de redação circulou pelas redes sociais durante a aplicação do exame e, segundo o ministro Weitraub, foi tirada e distribuída por um fiscal de prova.
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