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Natalia Pasternak faz parte do CSI Carl Sagan, criado para combater a anticiência que tem em Bolsonaro um símbolo

Natalia Pasternak Taschner (foto karl withakay – wiki )

Do UOL

Natalia Pasternak leu pela primeira vez, ainda na adolescência, o livro “O mundo assombrado pelos demônios” de Carl Sagan, de 1995. Aquele manifesto cético em defesa da ciência contra a ufologia, a astrologia e outras crenças populares a motivou a percorrer uma carreira na área. Ela só não imaginava que 25 anos após a publicação do livro seria a primeira brasileira a fazer parte do Comitê para Investigação Cética (Committee for Skeptical Inquiry, ou CSI, na sigla em inglês), um grupo criado pelo próprio Sagan nos Estados Unidos em 1976 e que hoje conta com nomes como Richard Dawkins e Neil deGrasse Tyson.

Se você lembrou da série de TV policial “CSI”, a ideia é parecida mas não é sobre crimes, claro. O comitê fundado por Sagan, Isaac Asimov, e outros divulgadores de ciência tem como foco investigar e desvendar mistérios da vida real. Mas nos casos estudados pelo grupo, a resposta quase sempre envolve explicações científicas. A microbiologista entra para o coletivo com uma missão um pouco mais complicada que a dos membros fundadores. “É muito mais difícil combater pseudociência quando ela é institucionalizada como hoje e vira política pública”, diz, em entrevista a Tilt.

Pasternak assume o posto no CSI apenas dias após a morte de outro membro fundador, o canadense James Randi. O ex-ilusionista, que largou a carreira nos palcos para desmascarar supostos paranormais como Uri Geller, o israelense que dizia ter o dom de entortar garfos e colheres com o poder da mente, morreu aos 92 anos na última quarta-feira (21). “Uma coisa é você mostrar que o charlatão está fingindo que entorta garfos com o poder da mente, quando qualquer mágico sabe o que ele está fazendo de verdade. Outra coisa é você brigar com o governo federal e o Ministério da Saúde porque eles estão autorizando o uso de água para curar doenças”, afirma Pasternak.

A microbiologista passou a trabalhar lado a lado com o CSI em 2018 na fundação do Instituto Questão de Ciência (IQC) —organização que, como o comitê americano, trabalha em defesa do pensamento científico no Brasil. O primeiro alvo do IQC foi a homeopatia, terapia alternativa que usa insumos naturais e não tem eficácia comprovada pela ciência. Em 2019, o grupo reuniu cientistas estrangeiros que conseguiram “eliminar” a prática no sistema de saúde de seus países para propor maneiras de fazer o mesmo no Brasil.

Pasternak lamenta que, até hoje, a homeopatia não só seja reconhecida oficialmente pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) como seja alvo de discussões sobre “quais médicos” podem ou não usar a terapia em seus tratamentos. “Isso não é ciência, é corporativismo”, diz.

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