Nem disfarçam: foi tucano amigo de Aécio quem fez o parecer que inocenta Temer

BRASÍLIA — Amigo “desde sempre” de Aécio Neves (PSDB-MG), o deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) irritou tucanos ao aceitar ser o relator do voto contrário à denúncia contra o presidente Michel Temer, sem antes consultar a bancada. Deputados favoráveis à aceitação da denúncia no partido – que hoje são majoritários – se queixaram de que a posição de Abi-Ackel não representa o movimento do PSDB de descolamento do governo e causa constrangimento. Para alguns tucanos, o deputado aceitou o encargo pela sua proximidade com Aécio, que trabalha internamente pela permanência do partido na base de Michel Temer.
O líder da legenda, Ricardo Trípoli (SP), que já se manifestou pelo desembarque do governo, demonstrou contrariedade com a escolha de Abi-Ackel. Ele ressalta que, apesar de o PSDB ter liberado a bancada para votar como quiser, a sinalização é ruim.
Como a maioria da bancada votou contra, ele poderia votar pela não admissibilidade, mas relatar é um passo à frente — disse.
Para Silvio Torres, Paulo Abi-Ackel tomou uma posição individual, desconsiderando o partido. Sobre as motivações do presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), para fazer o convite ao tucano, Torres diz que pode ter sido por “alguma conveniência”. No Palácio do Planalto, o convite de Pacheco foi visto como um gesto de aproximação depois de ter ficado isolado no PMDB. Para alguns tucanos, Pacheco está fazendo acenos a deputados de Minas Gerais, de olho nas eleições para o governo do estado no próximo ano, ou mesmo tentando agradar Aécio Neves, que trabalha internamente pela permanência na base.
— Achamos que o Paulo deveria se reportar ao líder primeiro. Ele aceitou esse encargo sem consultar a bancada. Não gostamos, fizemos essa ressalva. É uma questão de solidariedade política. A escolha do Rodrigo Pacheco pode ter tido a ver com alguma conveniência. Foi precipitado, ele mesmo poderia ter consultado o partido — disse Silvio.
Paulo Abi-Ackel defendeu sua posição e disse que não há componente político:
— Temos ministros no governo, parlamentares que apoiam o governo, talvez metade da bancada que apoia o governo. Não tem cabimento vir alguém querer botar limite. Sou radicalmente contra essa denúncia, por muitas razões técnicas, não políticas. Não aceitaria que ninguém me tolhesse. Querer cercear a atuação do parlamentar, qual é? Não há limites de orientação partidária, me senti absolutamente à vontade para fazer o voto substitutivo — afirmou o tucano.
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