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Nem disfarçam: foi tucano amigo de Aécio quem fez o parecer que inocenta Temer

Corra que lá vêm eles

BRASÍLIA — Amigo “desde sempre” de Aécio Neves (PSDB-MG), o deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) irritou tucanos ao aceitar ser o relator do voto contrário à denúncia contra o presidente Michel Temer, sem antes consultar a bancada. Deputados favoráveis à aceitação da denúncia no partido – que hoje são majoritários – se queixaram de que a posição de Abi-Ackel não representa o movimento do PSDB de descolamento do governo e causa constrangimento. Para alguns tucanos, o deputado aceitou o encargo pela sua proximidade com Aécio, que trabalha internamente pela permanência do partido na base de Michel Temer.

Logo que os tucanos ficaram sabendo que Abi-Ackel seria o relator, houve reação. O secretário-geral do PSDB, deputado Silvio Torres (SP), tentou demovê-lo da ideia, mas sem sucesso. Na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), apenas Abi-Ackel e o deputado Elizeu Dionisio (MS) votaram a favor de Temer, enquanto os outros cinco tucanos foram contra. Os cálculos no partido são de que, no plenário, haverá 30 votos no PSDB a favor da admissibilidade da denúncia, contra apenas 17.

O líder da legenda, Ricardo Trípoli (SP), que já se manifestou pelo desembarque do governo, demonstrou contrariedade com a escolha de Abi-Ackel. Ele ressalta que, apesar de o PSDB ter liberado a bancada para votar como quiser, a sinalização é ruim.

Como a maioria da bancada votou contra, ele poderia votar pela não admissibilidade, mas relatar é um passo à frente — disse.

Para Silvio Torres, Paulo Abi-Ackel tomou uma posição individual, desconsiderando o partido. Sobre as motivações do presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), para fazer o convite ao tucano, Torres diz que pode ter sido por “alguma conveniência”. No Palácio do Planalto, o convite de Pacheco foi visto como um gesto de aproximação depois de ter ficado isolado no PMDB. Para alguns tucanos, Pacheco está fazendo acenos a deputados de Minas Gerais, de olho nas eleições para o governo do estado no próximo ano, ou mesmo tentando agradar Aécio Neves, que trabalha internamente pela permanência na base.

— Achamos que o Paulo deveria se reportar ao líder primeiro. Ele aceitou esse encargo sem consultar a bancada. Não gostamos, fizemos essa ressalva. É uma questão de solidariedade política. A escolha do Rodrigo Pacheco pode ter tido a ver com alguma conveniência. Foi precipitado, ele mesmo poderia ter consultado o partido — disse Silvio.

Paulo Abi-Ackel defendeu sua posição e disse que não há componente político:

— Temos ministros no governo, parlamentares que apoiam o governo, talvez metade da bancada que apoia o governo. Não tem cabimento vir alguém querer botar limite. Sou radicalmente contra essa denúncia, por muitas razões técnicas, não políticas. Não aceitaria que ninguém me tolhesse. Querer cercear a atuação do parlamentar, qual é? Não há limites de orientação partidária, me senti absolutamente à vontade para fazer o voto substitutivo — afirmou o tucano.

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