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Neurocientista brasileira ganha reconhecimento nos EUA após sair do Brasil por falta de apoio

Da Revista Piauí:

Suzana Herculano-Houzel está no melhor momento de sua carreira. Um ano e meio depois de a neurocientista brasileira virar pesquisadora da Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos, seus estudos ganharam visibilidade sem precedentes. No último fim de semana, a neurocientista foi objeto de um extenso perfil na revista encartada aos domingos no jornal The New York Times.

Perfilada por piauí em fevereiro de 2013, Herculano-Houzel mudou-se para os Estados Unidos em maio de 2016. Sua decisão de deixar o Brasil, anunciada em primeira mão em um artigo para a revista, deu o que falar – houve quem visse na atitude uma falta de compromisso com a melhoria da ciência no país. Desde então, a situação da ciência brasileira está ainda mais crítica – o orçamento federal para a área este ano foi o mais baixo em mais de uma década, com a perspectiva de novos cortes para 2018.

A cientista está convicta de que fez a escolha certa. Numa entrevista por e-mail, ela alfinetou os colegas que condenaram sua decisão. “Isso só faz alimentar a ideia injusta e incorreta de que ser cientista é economicamente equivalente a ingressar no sacerdócio”, afirmou. “O público acha normal que executivos, diretores de empresas e outros profissionais mudem de emprego quando têm uma oportunidade melhor. Por que deveria ser diferente com cientistas?”

O balanço que Herculano-Houzel faz dos primeiros meses como pesquisadora numa universidade americana é positivo. “Agora tenho muito mais tempo para me dedicar ao que deveria ser meu trabalho, ou seja, o que só eu posso fazer, graças a uma infraestrutura administrativa excepcional”, avaliou. “Também tenho apoio financeiro para me dedicar às perguntas que realmente interessam, e não apenas às que cabem no orçamento minguado que infelizmente limita os cientistas no Brasil.”

A visibilidade de suas pesquisas é um reflexo das melhores condições de trabalho. É verdade que aparições na imprensa americana não são novidade para a pesquisadora – alguns de seus trabalhos já haviam sido noticiados nos Estados Unidos quando ela ainda era professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Estar numa universidade local, porém, colocou a neurocientista brasileira no centro dos holofotes.