No pós Golpe de 64, Militares falavam em “terminar” com estudantes e padres, dizem telegramas

Documento enviado pelo consultado da Suíça no Rio afirma, em 1973, que a tortura não é uma novidade no Brasil (reprodução)

Do blog do jornalista Jamil Chade no UOL:

Se necessário, a violência deveria ser usada para “terminar” com “comunistas, padres e estudantes de extrema-esquerda”.

O relato faz parte de um telegrama da diplomacia suíça, mantido hoje nos arquivos oficiais do país europeu.

Ao longo dos anos 60 e 70, diversos documentos, relatos e alertas foram enviados pelos embaixadores e enviados suíços com base no Brasil à chancelaria em Berna, descrevendo uma situação de tortura, violações de direitos humanos e crimes cometidos pela ditadura militar.

No dia 30 de outubro de 1968, por exemplo, o embaixador suíço no Brasil, Giovanni Bucher, faria um relato da situação do país a Willy Spuehler, chefe do Departamento Político Federal em Berna. “É certo que a polícia, mal formada e mal paga, reage com frequência de maneira muito violenta: ela faz prisões na rua, sem discriminação, de culpados e de inocentes que ela solta depois de um, dois ou três dias de detenção”, escreveu Bucher. No texto, ele chega a chamar os membros do governo brasileiro de “medíocres”.

Mas é o relato de uma conversa com o marechal aposentado Odilio Denys, que da a dimensão do que os militares estariam dispostos a fazer, ainda nos primeiros anos do regime militar. “Ele me declarou que era necessário terminar, se necessário pela violência, com os comunistas, com os padres e estudantes da extrema-esquerda”, contou o embaixador. Num telegrama de 24 de outubro de 1973, o cônsul suíço no Rio de Janeiro, Marcel Guelat, escreve ao secretário-geral do Departamento de Política do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Ernesto Thalmann, para explicar a situação no País.

O texto – entitulado “Tortura no Brasil” – ainda era uma resposta a um pedido de Berna por informações. Se no contexto internacional a Suíça manteve sua postura tradicional de neutralidade e buscou sempre canais de comunicação, os documentos revelam que os diplomatas mantinham uma postura interna crítica em relação às violações praticadas no País.

(…)

Jose Cassio

JC é jornalista com formação política pela Escola de Governo de São Paulo

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