Nos EUA, Bolsonaro mente sobre imigração e anti americanismo
Da Agência Aos Fatos

O presidente Jair Bolsonaro concedeu entrevista à emissora Fox News e discursou na Câmara de Comércio dos Estados Unidos no segundo dia de sua visita oficial aos EUA, nesta segunda-feira (18). Nas duas ocasiões, ele proferiu declarações que não correspondem aos fatos e dados disponíveis sobre imigração e sobre a relação dos governos brasileiros anteriores com o país anfitrião. O capitão reformado também caiu em contradição ao refutar críticas de que é homofóbico, xenófobo e racista.
Checamos, abaixo, algumas das declarações do presidente. As verificações estão compiladas também nesta base de dados.

A maioria dos imigrantes não tem boas intenções nem quer fazer o bem ao povo americano.
Nesta declaração à Fox News, Bolsonaro repete um posicionamento do presidente americano Donald Trump, que já classificou diversas vezes a imigração como um problema nacional ou até como uma crise humanitária, relacionando os imigrantes com a violência e o tráfico de drogas. Essa relação, no entanto, não é comprovada cientificamente. Na verdade, diversos estudos contrariam a tese dos presidentes.
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Vejam a experiência da França, cujas fronteiras foram abertas para receber refugiados sem nenhum tipo de seleção ou de filtro.
Ao contrário do que afirma Bolsonaro, a França tem uma rígida política de imigração e, ao longo da crise migratória de 2016, usou a força policial para desmontar acampamentos de imigrantes. De acordo com o Immigration Policies in Comparison, que analisa as políticas migratórias dos países para avaliar seu grau de restrição, a França tem 0,7 numa escala que varia de 0 (menos restritivo) a 1 (mais restritivo). O estudo, no entanto, não leva em conta a nova lei de migração francesa, aprovada em setembro de 2018, que amplia o controle sobre o fluxo de estrangeiros.
A lei, que passou a valer a partir de janeiro deste ano, estabelece critérios mais rigorosos para a concessão de asilo e restrições em relação à imigração irregular. Ela, por exemplo, reduziu de 11 para seis meses o tempo de avaliação de pedidos de asilo e também diminuiu de 120 para 90 dias o prazo para requerer asilo. A nova legislação permite ainda a prisão para fins de expulsão: um imigrante que teve asilo negado pode ficar até 90 dias preso antes de ser expulso da França.
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… governos [Lula e Dilma] que, antes de tudo, eram antiamericanos.
Não há registros públicos de que os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT, tenham demonstrado qualquer comportamento que possa ser enquadrado como antiamericano enquanto estiveram no poder. Assim, a declaração de Bolsonaro em discurso na Câmara de Comércio Brasil-EUA, foi classificada como FALSA.
O Departamento de Estado dos EUA mantém a documentação sobre os motivos e o número de visitas de chefes de Estado ao país. Lula fez oito visitas oficiais aos EUA enquanto exercia a presidência, em 2002, 2003, 2006, 2007, 2008, 2009 (duas vezes) e 2010. Já Dilma Rousseff esteve nos EUA em três ocasiões, em 2011, 2012 e 2015. Durante o governo Temer, o Brasil também recebeu a visita de representantes do governo estadunidense: Mike Pence, vice-presidente dos Estados Unidos, e James Mattis, ex-secretário de Defesa, estiveram no país em 2018, conforme registros do Itamaraty.

Nesse meio tempo, a mídia, ninguém disse, a esquerda tentou matar Bolsonaro. Muito pelo contrário, a mídia divulgou que parte da esquerda estava frustrada que eu não tinha morrido.
Um inquérito da Polícia Federal, encerrado em setembro de 2018, concluiu que Adélio Bispo agiu sozinho ao desferir uma facada em Jair Bolsonaro. Há outro inquérito em andamento para investigar a possibilidade do agressor ter recebido ajuda para planejar o crime. Apesar de Adélio ter sido filiado ao PSOL por cerca de sete anos, não há indícios de que o partido ou qualquer outro segmento de esquerda esteja envolvido com o planejamento e execução do crime. A filiação e a falta de comprovação sobre um suposto elo de ligação entre o partido e a autoria do crime foram amplamente divulgados pela imprensa. O episódio também estimulou mensagens de solidariedade a Bolsonaro de políticos de esquerda.
Desde o primeiro depoimento, Adélio declara que agiu sozinho, movido por motivos pessoais e “a mando de Deus”. Laudos emitidos por psicólogos e psiquiatras a pedido da defesa e da Justiça Federal comprovam que Adélio sofre de transtornos mentais. A Justiça Federal ainda não decidiu se o agressor é inimputável. Enquanto isso, Adélio está preso em um presídio federal em Campo Grande, onde aguarda a sentença.

Eu não tenho nada contra homossexuais ou mulheres, eu não sou xenófobo.
A declaração é CONTRADITÓRIA porque Bolsonaro já proferiu falas homofóbicas, machistas e xenofóbicas em outros momentos. Em 2011, ele foi condenado a pagar indenização por danos morais coletivos em razão de falas homofóbicas. Em entrevistas, o presidente já defendeu que mulheres deveriam receber salários menores. E, em 2015, Bolsonaro chamou imigrantes de “escória do mundo” durante uma entrevista.
Na própria entrevista à Fox News, o presidente se contradisse ao proferir declarações xenofóbicas e homofóbicas, como quando afirmou que “a maioria do imigrantes não têm boas intenções”, que pessoas podem ter relações homossexuais, mas “nós não podemos permitir trazer essa discussão para a sala de aula” e que “a definição de família é apenas a existente na Bíblia”.
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