Novas cepas do coronavírus desafiam o alcance de proteção das vacinas

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De Fernando Reinach no Estado de S.Paulo.
A ilusão durou uma semana. Quem acreditou que a chegada das vacinas iria acabar com a pandemia já percebeu que isso não vai acontecer: o Butantan confirmou que vai interromper o envase, na Fiocruz ele vai começar em março, a China não tem pressa em repor os estoques.
De concreto temos as 10 milhões de doses já envasadas pelo Butantan, mais 2 milhões chegando da Índia, o suficiente para vacinar 6 milhões de pessoas em um país de 210 milhões de habitantes. Como a Coronavac tem uma eficácia de 50%, só 3 desses 6 milhões devem se livrar da covid-19.
A ilusão que a Coronavac protege pessoas mais velhas e evita casos graves também foi destruída pela Anvisa: os dados não são suficientes para justificar essas conclusões. É provável os contratos do Butantan e da Fiocruz com a China sejam cumpridos, mas infelizmente esses contratos são suficientes para vacinar menos da metade dos brasileiros.
A segunda metade das doses deverá ser produzida em duas fábricas de princípio ativo que estão sendo construídas no Butantan e na Fiocruz. O Butantan promete sua fábrica para outubro, mas as fotos das obras são desanimadoras. Com as vacinas de baixa eficácia e a incompetência federal, é difícil imaginar que vai haver vacinação suficiente para impactar a pandemia no Brasil em 2021.
Mas as desgraças que assolam a população brasileira não comovem o coronavírus. Enquanto nossos planos caem por água abaixo, o SARS-CoV-2 está evoluindo e novas cepas estão pipocando ao redor do mundo. Vale a pena entender o que são essas novas cepas.
Cada nova cepa se caracteriza por um conjunto de mutações que geralmente aparecem na “spike protein”, a proteína que forma a espícula do vírus, a região que o vírus usa para se ligar e penetrar nas células humanas (são aqueles chifrezinhos no vírus).
Como toda proteína, a “spike” é composta de uma sequência de centenas de aminoácidos. É como se fosse um colar de pérolas com centenas de pérolas. Mas ao invés de ser composto por um único tipo de pérola, contém 20 diferentes tipos de pérolas no mesmo colar (os 20 aminoácidos).
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Milhares de novas cepas contendo diversas mutações desse tipo têm sido identificadas desde o início da pandemia. A grande maioria, apesar de carregar muitas mutações, tem as mesmas características do vírus original. Se espalham com a mesma velocidade e provocam a mesma doença com a mesma seriedade. O problema é que agora estão surgindo cepas com comportamento diferente da cepa original.
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