Novos chefes do jogo do bicho querem aliança com milícia no Rio
De Chico Otávio no Jornal Extra.
Assim que foi informada sobre o assassinato do bicheiro Fernando Iggnácio, uma autoridade da área de segurança estremeceu de irritação. “Ele não podia ter feito isso conosco”, reclamava, referindo-se ao suspeito do crime. Sua lógica enxergava no atentado ao contraventor, no dia 10 de novembro do ano passado, uma quase traição às forças policiais. Afinal, os chefões da jogatina passaram praticamente os últimos anos sem incômodos, enquanto a polícia priorizava o combate ao tráfico de drogas e às milícias.
Livres das barras da lei, os bicheiros que predominaram, após uma interminável matança pela hegemonia territorial, consolidaram-se no topo da hierarquia criminosa do estado, impulsionados não apenas pelas máquinas de caça-níqueis espalhadas pelas comunidades periféricas, mas por um portfólio de negócios escusos que inclui alianças estratégicas com milicianos.
Esse crime organizado no Rio entrou o século 21 sem a preocupação dos seus antecessores em forjar a imagem de benfeitores sociais. Figuras sorridentes como o capo Castor de Andrade, cuja história está sendo mostrada pelo documentário “Doutor Castor”, na GloboPlay, deram lugar a chefões violentos e mal-humorados, que sentem desconforto no posto de patronos de escolas de samba e sofrem para evoluir na Sapucaí sob os aplausos das arquibancadas. Não há tempo a perder nas guerras pela sucessão do poder nas famílias do bicho e no avanço de milicianos sobre os espólios da jogatina.
As mortes dos barões Castor de Andrade (1997) e Waldemir Garcia, o Miro (2004), desencadearam uma sangrenta e interminável disputa pelo espólio familiar. Pelos Garcia, já tombaram Maninho (filho de Miro, em 2004), José Luiz de Barros Lopes, o Zé Personal (genro de Miro, 2011), Mirinho (filho de Maninho, 2017) e Alcebíades Paes Garcia, o Bid (irmão de Maninho, 2020), sem citar outros integrantes da quadrilha. Pelos Andrade, Paulinho (filho de Castor, 1998), Diogo (filho de Rogério Andrade, sobrinho de Castor, 2010) e Fernando Iggnácio (genro de Castor, 2020).
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