O choro de quem viu parentes em pilha de corpos no Rio

Parentes e amigos choraram seus mortos na Praça São Lucas, no Complexo da Penha, após a chacina policial que deixou 121 vítimas fatais. A cena de corpos enfileirados em frente a uma creche revelou o drama humano por trás da ação considerada a mais letal da história do estado do Rio de Janeiro. Mulheres foram predominantes entre os que prestavam homenagem e tentavam identificar familiares.
Uma mulher passou mal ao reconhecer o genro entre os mortos, entrando em estado de choque. “Ela está em estado de choque. Está passando muito mal. Ninguém merece passar por isso. Vamos levá-la ao hospital agora. Não é sobre a perda do genro, é sobre a violência geral que enfrentamos”, disse sua irmã ao Globo. Enquanto isso, um avô de 63 anos lamentou não ter conseguido ver o corpo do neto de 17 anos, Jean Alex Santos Campos, conhecido como Café, que já havia sido removido.
O avô, que criou o neto como filho, compartilhou seu desespero. “Dentro da comunidade, a gente acaba perdendo para isso aí. Você perde o filho duas vezes: uma quando ele já não consegue mais te escutar e depois quando morre”, desabafou. Ele revelou que a última conversa com o neto aconteceu às 4h da terça-feira (28), pouco antes da operação começar. “Ele disse: ‘vou me cuidar pai, te amo muito’ e mandou um coração”.
No Instituto Médico-Legal, familiares relataram casos de extrema violência. Beatriz Nolasco denunciou a condição do sobrinho, Yago Ravel Rodrigues, de 19 anos. “Meu sobrinho não tinha um tiro no corpo. Arrancaram a cabeça dele e deixaram na mata. Isso foi uma chacina!”, afirmou. Outra mulher, moradora de Arraial do Cabo, encontrou o corpo do pai de sua filha com uma perfuração no peito e graves machucados na cabeça e pernas.

 
		