“O dia em que Sérgio Cabral chorou na minha frente”
Do Joaquim de Carvalho, na matéria sobre a vida paralela de Cabral e Aécio:
Em 1998, eu era repórter da Globo do Rio e, até ali, tinha apenas depoimentos em off de que havia de fato uma caixinha das empresas de ônibus, mas não havia provas. Procurei Cabral na presidência da Assembleia. Ele aceitou conversar, mas sem registro de câmera.
Foram mais ou menos três horas de entrevista, durante as quais negou que fosse uma espécie de gerente da caixinha, mas admitiu que ela pudesse existir.
Bom de papo, esforçou-se para levar a conversa para o lado pessoal e contou com alegria que havia morado em São Paulo – de onde eu havia saído para trabalhar no Rio – e das boas lembranças que tinha do trabalho do pai na revista Realidade.
Também explicou que o pai não tinha a mesma vocação política que ele. “Meu pai dizia que se elegeu vereador porque a Câmara fica entre dois bares com ótimo chope, um deles o Amarelinho”, afirmou.
A certa altura, começou a falar de um drama pessoal. Era início de 1999, dois anos e pouco antes ele havia se separado e a razão foi que a mulher, a prima de Aécio, se apaixonou pela fotógrafa da campanha do marido a prefeito do Rio e, segundo ele, foi morar com a namorada e o deixou com três filhos.
Sérgio Cabral nem bem terminou o relato e começou a chorar, soluçando alto. Já tinha entrevistado o presidente da Assembleia algumas vezes, em coletiva, mas não tinha intimidade com ele.
Fiquei imaginando que talvez ele quisesse mostrar a face humana de um político já àquela altura suspeito de corrupção. Mas o choro (com muitas lágrimas) era verdadeiro.