O MPL se manifesta sobre a Copa
A bbc entrevistou o MPL sobre a Copa. Abaixo, trechos:
1. A Copa driblou os protestos?
MPL: Muitos movimentos sociais não se dispuseram a fazer luta na Copa. Alguns por acordo explícito com o governo, outros por repressão e outros ainda por avaliarem que não seria esse o momento de se investir forças. Essa soma de fatores pulverizou e deslocou a luta para alguns coletivos e ações pontuais.
Mesmo assim, não é correto dizer que a Copa driblou os protestos. Se algo pode ser dito, é que a Copa reprimiu as manifestações. É de se notar a escalada da violência estatal como, por exemplo, policiais à paisana portando armas de fogo no meio da manifestação intimidando os participantes, assim como a ação preventiva da polícia de prender ativistas antes do início da Copa.
Em São Paulo, a polícia se utilizou de um inquerito policial (completamente ilegal) para intimidar os manifestantes desde setembro de 2013. Através deste inquérito, pessoas que tinham sido presas para averiguação por portarem vinagre, ou por ter “cara de manifestante” (a prisão para averiguação é uma prática comum da polícia nas periferias e que se tornou também comum nas manifestações – e que também é ilegal), mães de militantes, pessoas que nem estavam nas manifestações, e até o advogado que está representando muitos dos investigados no inquérito foram intimados a depor. Além disso, as manifestações vem sendo impedidas de ocorrer, com o uso de muita violência, como por exemplo no dia 12 de junho, em São Paulo. Além disso há um forte bloqueio midiático com o que acontece nas ruas por parte da imprensa nacional. Notamos que neste momento é mais fácil uma mídia internacional noticiar uma manifestação do que a imprensa nacional.
2. Os protestos surgiram nas redes sociais e daí ganharam as ruas, mas teriam agora perdido o fôlego? Existe uma fadiga de manifestações?
MPL: Os protestos não começaram nas redes sociais, isto é, no Facebook e no Twitter. No caso do Movimento Passe Livre, nós fazemos manifestações antes dessas ferramentas serem utilizadas. Em 2003, na Revolta do Buzu, em Salvador, e em 2005 e 2006, na Revolta da Catraca, em Florianópolis, não havia essas ferramentas e a população lutou contra o aumento da tarifa nessas cidades. O fato é que a tarifa dos transportes públicos é um peso no orçamentos dos trabalhadores, seja ele atendido por programas de assistência social do governo ou não. Enquanto houver tarifa haverá manifestação.
3. Essa forma de protesto político com raízes no ativismo online aponta agora para que caminho?
MPL: Como dito acima, os protestos não tem suas raizes no ativismo online. Pelo contrário, os protestos tem suas raízes nos coletivos da periferia que se organizam por um transporte público de verdade, nos estudantes secundaristas que organizam atividade em suas escolas para discutir a tarifa zero no transporte, e na revolta causada pela violência diária que é enfrentar o transporte coletivo de São Paulo.
Saiba Mais: bbc