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Obama enfrenta revolta de diplomatas por indicar aliados para embaixadas

Uma série de declarações que revelam ignorância de futuros embaixadores – indicados pelo presidente Barack Obama – sobre os países onde vão atuar vem causando constrangimento à diplomacia americana.

Os protagonistas desses episódios têm em comum a falta de experiência diplomática e o fato de serem grandes doadores para a campanha de reeleição de Obama, no segundo caso, uma tradição no país.

A American Foreign Service Association (AFSA), entidade que representa mais de 16 mil diplomatas de carreira, realizará na próxima semana uma reunião para decidir se manifesta oficialmente oposição a essas nomeações.

Caso decida agir publicamente, será uma atitude rara, a primeira vez desde o início dos anos 1990.

“Vamos decidir se realmente queremos nos envolver e, caso a resposta seja positiva, de que maneira vamos agir, se com uma declaração sobre indivíduos específicos ou um comentário sobre o sistema como um todo”, disse à BBC Brasil um dos diretores da AFSA, Ásgeir Sigfússon.

A associação também acaba de publicar um manual com pré-requisitos que deveriam ser levados em conta na indicação e confirmação de candidatos a chefe de missão.

São qualificações que poderiam ser consideradas óbvias, como ter conhecimento de relações internacionais e do país em questão – além dos principais interesses dos EUA na região -, mas que faltam a nomeados recentes.
Desde o mês passado, pelo menos três casos ganharam manchetes devido ao desconhecimento demonstrado pelos escolhidos sobre os países nos quais deverão representar os EUA.

Ao ser sabatinada pela Comissão de Relações Exteriores do Senado, a produtora de telenovelas Colleen Bell, indicada para comandar a embaixada americana na Hungria, não conseguiu responder quais os interesses estratégicos dos EUA naquele país.

O futuro embaixador em Buenos Aires, Noah Bryson Mamet, reconheceu que nunca foi à Argentina.

O nomeado para a embaixada em Oslo, George Tsunis, um executivo do setor hoteleiro, demonstrou não saber que o país para onde será enviado é uma monarquia constitucional. Ele também descreveu o Partido do Progresso como um elemento “à margem, responsável por um discurso de ódio”, e afirmou que “a Noruega havia denunciado o partido”, cujo discurso anti-imigração é notório.

Diferentemente da maioria das grandes potências, os EUA adotam a prática de recompensar aliados e doadores de campanha com postos diplomáticos, em uma tradição que resiste, apesar das críticas.

“Infelizmente, é uma prática comum em ambos os partidos (Democrata e Republicano)”, disse à BBC Brasil o diplomata Ronald Neumann, ex-embaixador dos EUA no Afeganistão e presidente da American Academy of Diplomacy (Academia Americana de Diplomacia).

Ao assumir o poder, em 2009, Obama falou em mudar a prática, dando preferência a diplomatas de carreira.

No entanto, segundo dados da AFSA, diplomatas de carreira respondem por apenas 47% das nomeações feitas em seu segundo mandato – entre elas a de Liliana Ayalde, embaixadora em Brasília, que tem mais de 30 anos de experiência.

Saiba Mais: bbc