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Operação que inspirou Lava Jato fracassou e criou corruptos mais sofisticados, diz pesquisador à BBC

Do cientista político Alberto Vannucci, um dos maiores estudiosos da Operação “Mãos Limpas” na Itália, que serviu de inspiração para a Lava Jato, à BBC Brasil:

No seu artigo “O legado controverso da Mãos Limpas”, o sr. escreve que a operação expôs a corrupção, mas não conseguiu resolver o problema. Pelo contrário, pode até ter criado mecanismos de corrupção mais elaborados. Por quê?

Alberto Vannucci – A Mãos Limpas pode ser considerada uma conquista incrível em curto prazo, mas um fracasso em longo prazo. Em termos gerais, inquéritos judiciais, mesmo quando bem-sucedidos, podem colocar na cadeia alguns políticos, burocratas e empresários corruptos, mas não conseguem acabar com as causas enraizadas da corrupção.

A falta de transparência e responsabilidade em política e na burocracia estatal, o controle social e político fraco sobre o exercício de poder, mecanismos de seleção da elite política errados e imorais: esses e outros fatores de corrupção não podem ser erradicados por juízes.

E, pior, na Itália, agora, os políticos corruptos, servidores públicos e empresários aprenderam a lição da Mãos Limpas e não estão cometendo os mesmos erros daqueles que foram presos. Nos últimos anos, eles desenvolveram técnicas mais sofisticadas para praticar corrupção com mais chances de ficarem impunes, como dissimular pagamentos de propinas, ou multiplicar conflitos de interesses, como fez (o ex-premiê) Berlusconi (ao criar tensões com o Judiciário).

Mesmo quando acham provas de propina e processam políticos, investigações judiciais só arranham a superfície da ilegalidade, mal podem modificar a estrutura invisível das normas não escritas da corrupção sistêmica. Quando uma parte significativa dos membros da elite desenvolvem uma crença de que “a corrupção é a forma normal de fazer as coisas”, a prática da corrupção resiste a investigações e escândalos.