Os detalhes da crise interna da BRF, maior companhia de Santa Catarina
De Larissa Linder e Estela Benetti do Diário Catarinense.
Como uma empresa saudável vai do lucro bilionário ao prejuízo milionário de um ano para o outro? A resposta pode estar no cenário atual da BRF, que passou de um lucro líquido de R$ 2,9 bilhões em 2015 para seu primeiro prejuízo desde que foi criada, de R$ 375 milhões, em 2016. No ano passado, o rombo alcançou R$ 1,1 bilhão.
Com esse cenário, não foi surpresa o novo capítulo que se abriu em 24 de fevereiro para a maior companhia catarinense, que surgiu da fusão da Sadia e da Perdigão em 2009. Os fundos de pensão da Petrobras e do Banco do Brasil (Petros e Previ, respectivamente), maiores acionistas da empresa, pediram que o conselho de administração convocasse uma assembleia geral extraordinária para deliberar sobre a destituição de todos os seus membros, inclusive do presidente, Abilio Diniz.
A queda do executivo ocorre porque a maioria dos acionistas está insatisfeita com os resultados. A raiz do problema, avaliam ex-executivos da empresa, foi levar a lógica e a agressividade do mercado financeiro para um setor cheio de peculiaridades. Para quem vive de dividendos, ter ações da BRF passou a ser um mau negócio. A promessa do empresário, assim que entrou na companhia, em 2013, foi de que os papéis, que então estavam na casa dos R$ 40, chegassem aos R$ 100 em 2017. No final do ano passado, alcançavam R$ 36. Nesta semana, bateram os R$ 30.
(…)
Outro herdeiro da Sadia, mas hoje com poucas ações da BRF, seu ex-diretor Institucional e ex-secretário da Fazenda de SC, Felipe Luz, prefere romper o silêncio. Enteado de Attílio Fontana, diz que os resultados da empresa estão preocupando muito os acionistas, principalmente os fundos de pensão, que precisam de dividendos para pagar as aposentadorias.
– Em todos os lugares em que passou, o Abilio Diniz criou atrito. Ele é muito prepotente – diz Luz.
(…)
O próximo capítulo da dona das marcas Sadia e Perdigão será conhecido nesta segunda-feira, data da assembleia extraordinária. Diniz chegou a divulgar na semana que passou uma carta em resposta aos fundos, na qual admite que a situação da BRF não é boa, mas fez questão de escrever que todas as decisões foram tomadas em conjunto, pelo conselho, em sua maioria de forma unânime. Também reclama da falta de diálogo e afirma não ter tido tempo de implementar um plano de ação, que seria apresentado na próxima semana.
(…)
A divisão entre Sadia e Perdigão fica evidente nos primeiros minutos de conversa com profissionais que passaram pela BRF. Até hoje, é uma questão mal resolvida, que provoca conflitos internos e tem participação na crise pela qual a empresa passa. Há quem afirme, inclusive, que os cortes que se seguiram à saída de Nildemar tiveram como alvo, majoritariamente, executivos com origem na Perdigão.
(…)
