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PCO defende Karol Conká e diz que “identitarismo é política do imperialismo”

Karol Conká na prova bate e volta do BBB21; cantora entregou estratégia para ganhar

Depois de sair em defesa de Robinho, Trump, e do Terça Livre, o Partido da Causa Operária (PCO) decidiu defender Karol Conká no BBB.

A participante foi acusada de tortura psicológica e assédio de dentro do programa, mas para o PCO, o cancelamento se dá “porque não tem ligações com o imperialismo”.

“Assim como Monteiro Lobato, um dos escritores engajados na campanha em defesa do petróleo brasileiro, também não era dos mais quistos pelas petroleiras. Nem Neymar, representante do futebol dos oprimidos, é bem-vindo na Europa. No entanto, Kamala Harris, inimiga de todo o povo norte-americano, Cristiano Ronaldo, que carrega detrás de si uma série de acusações morais, e tantos outros representantes do imperialismo com um passado podre permanecem ocultos sob a figura do bom moço”, diz.

Leia o texto na íntegra:

“Acompanhamos as últimas declarações de Karol Conka [sic] no ‘BBB21’ e reafirmamos nossa total e absoluta discordância de suas atitudes, que vão contra os princípios basilares do Rec-Beat e do nosso público”. Foi com esse pretexto que o festival de música Rec-Beat, fundado na década de 1990 no Recife, suspendeu a participação da rapper Karol Conká em sua edição virtual que ocorrerá no dia 14 de fevereiro. Valendo-se da mesma demagogia que o golpista Baleia Rossi utilizou após ser derrotado na Câmara dos Deputados, o festival ainda afirmou que,

“em mais de 25 anos de existência, o festival consolidou princípios inalienáveis que passam pelo respeito à diversidade, raça, cor, etnia, origem e condição, pela equidade de gêneros, pela inclusão, pelo exercício da democracia e total liberdade de expressão que respeite tais princípios”.

Essa não é a primeira vez que uma “democracia” em abstrato é utilizada para a prática da censura. E também não é a primeira vez que isso acontece na área da cultura. Pelo contrário: trata-se de uma política que tem se tornado cada vez mais comum.

Em certo sentido, é até esperado que isso ocorra. Afinal, há, em todo o mundo, uma ofensiva do imperialismo no sentido de impor governos extremamente impopulares, dispostos a arrancar a pele dos trabalhadores para satisfazerem os interesses dos bancos. Nessas condições, espera-se cada vez mais censura, cada vez mais repressão: se houver o mínimo de espaço para contestação, o regime é incapaz de se manter de pé, pois o programa neoliberal é odiado.

O que não é normal é que quem esteja apoiando essa tendência de tipo fascista seja a esquerda. Revela, portanto, que a esquerda pequeno-burguesa, por seu próprio conteúdo, compartilha da mesma histeria que vive a pequena burguesia fascista na medida em que a crise e a polarização política aumentam.

O que chama ainda mais a atenção é que, na tentativa de justificar esse tipo de política, os censuradores ainda se colocam em um papel que consideram progressista. Pensam estarem ensinando, e não abrindo os portões para os campos de concentração:

“Acreditamos que momentos como este nos oferecem oportunidade de reflexão, de aprendizado e de avanço na desconstrução de condutas que remetem a valores colonizadores”.

O fato, no entanto, é que aquilo que parece uma conduta civilizada não passa, na verdade, da conduta propagandeada pela opinião pública vigente. E, como quem controla a opinião pública, é a classe dominante, a moral dos censuradores é nada mais que a moral concebida pela burguesia para censurar seus inimigos políticos.

No caso de Karol Conká, isso é evidente. Quem está organizando a campanha para que a cantora seja execrada publicamente são as Organizações Globo. Certamente o monopólio da imprensa que é mais capacho do imperialismo e que mais serviu de capacho para a ditadura militar de 1964-1985. Ou seja: a esquerda pequeno-burguesa que manda reprimir quem aparece como moralmente condenável no Big Brother Brasil está, na verdade, linchando aqueles para quem a Globo aponta o dedo. O que, em outras épocas, seria o mesmo que para quem os generais da ditadura apontassem o dedo…

O caso mostra ainda como a esquerda pequeno-burguesa fica a reboque do imperialismo até mesmo no que diz respeito à produção cultural. Frequentemente, nos deparamos com a algum setor da esquerda que quer acabar com o futebol, que quer reprimir o carnaval, que diz que Bolsonaro chegou ao poder porque o “povo” é ignorante etc. Contudo, essa mesma esquerda está tomando como parâmetro para a vida social um programa decadente, de péssima qualidade, realizado pela Rede Globo.

A censura e a repressão, sob o pretexto de uma tabula rasa a partir de uma moral indefinida, já é, em si, uma demonstração de barbárie. Como visto recentemente, rasgar os direitos democráticos de Donald Trump simplesmente porque ele é um fascistoide é o mesmo que rasgar o direito democrático à liberdade de expressão em si. Se for necessário um juiz para determinar se uma pessoa merece ou não ter um direito, acabou-se o direito.

Agora, fazer esse tipo de condenação moral em relação a um artista é ainda mais absurdo. Na política, como o poder político está em jogo, é até compreensível que os setores mais ignorantes percam a cabeça e, na ânsia de esmagar seu inimigo, acabem defendendo uma política irracional. Mas, conforme o caso de Karol Conká demonstra, o problema, além de uma política errada, é de uma ideologia bárbara e repressiva por parte da esquerda. Uma ideologia, inclusive, que remete a épocas medievais.

Se apenas formos levar em consideração as obras realizadas por artistas que eram moralmente puros, então toda a produção mundial pode ser colocada abaixo. Não sobrará um único artista, pois todos eram homens, e não santos. E, mesmo se houver algum santo, é preciso levar em conta que a moralidade, como é algo abstrato, varia de época para época. O que ontem não era imoral, hoje pode ser.

No fim das contas, além dessa ideologia ser bárbara e levar a sociedade para o período da Santa Inquisição, onde tudo o que era moralmente condenado era queimado, ela só terá serventia quando for para defender os interesses do imperialismo. Karol Conká está sendo “cancelada” porque não tem ligações com o imperialismo. Assim como Monteiro Lobato, um dos escritores engajados na campanha em defesa do petróleo brasileiro, também não era dos mais quistos pelas petroleiras. Nem Neymar, representante do futebol dos oprimidos, é bem-vindo na Europa. No entanto, Kamala Harris, inimiga de todo o povo norte-americano, Cristiano Ronaldo, que carrega detrás de si uma série de acusações morais, e tantos outros representantes do imperialismo com um passado podre permanecem ocultos sob a figura do bom moço.