Pesquisador diz que alguns escritores brasileiros de Ficção Científica tem laços com fascismo e Bolsonaro

O pesquisador e escritor Jean Gabriel Álamo, autor de 18 livros, publicou um importante fio levantando os laços entre autores de FC (Ficção Científica), o integralismo, a extrema direita e Bolsonaro no Brasil.
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Um deles é Gumercindo Rocha Dórea e o ilustrador Luciano Cunha, de O Doutrinador.
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Confira o fio (thread) do pesquisador no Twitter:
“E ontem eu descobri, totalmente por acaso, o porquê de os escritores nacionais de Ficção Científica serem majoritariamente de extrema-direita (há várias exceções, óbvio). Sempre estranhei. Ontem soube. Pior que, quando eu botar a boca no trombone, vai dar uma merda do caralho…
Eu não achei que esse tuite fosse dar repercussão agora porque eu estou na fase de ainda reunir material. Mas vou postar aqui um fio contando uma merda que mistura Ficção Científica BR com fascismo tropical, e tem direito até a conspiração política e referência histórica…
Como são informações soltas, posso demorar uns minutinhos entre os tuites, até porque vou escrevendo e postando. E vocês, por favor, deem RT no que acharem relevante. Vou contar como fui descobrindo uma coisa atrás da outra e como a Ficção Científica BR se relaciona com fascismo.
Como vocês sabem, eu tenho pesquisado a fundo fascismo no Brasil porque é algo que se relacionará diretamente com meu próximo livro da série de fantasia urbana “Feiticeiro de Aluguel”, sendo que esse volume em particular terá elementos de Sci-Fi também…
Então as minhas pesquisas acabam frequentemente me levando a topar com coisas que aparentemente não se relacionam com o escopo da obra, mas acabam complementando o que quero abordar…
Vamos pra aula de História e entender a origem da relação entre extrema-direita e FC brasileira? Porque só assim entenderemos o porquê de ela hoje ser majoritariamente conservadora…
Em agosto de 2020, publiquei um artigo que fala sobre mercado editorial brasileiro, suas reformulações e como só agora estamos começando a contemplar uma real pluralidade e acessibilidade:
‘O que é que isso tem a ver com Ficção Científica e extrema-direita no Brasil, Jean?’ Tem tudo! Porque, nesse subgênero do Fantástico, a chamada Primeira Onda da Ficção Científica se deu graças à Editora GRD. Por isso também é chamada de ‘Geração GRD’…
GRD é sigla para o nome de seu presidente-fundador: Gumercindo Rocha Dorea, viúvo de Augusta Rocha Dorea, que foi autora de múltiplos livros exaltando Plínio Salgado, o principal nome na História do Integralismo. Mas calma, isso vai piorar cada vez mais na thread…
GRD, filiado ao PRP e presidente da Confederação dos Centros Culturais da Juventude e do Movimento Águia Branca (assumidamente nazista e supremacista branca), ainda escreveu e publicou por sua editora a coleção:
‘Enciclopédia do Integralismo’, que é basicamente uma enciclopédia fascista de 12 volumes sobre Integralismo. Tais temas, obviamente, nunca foram assuntos comentados no meio da Ficção Científica.
No livro ‘Guerra Fria e Política Editorial’, da historiadora Laura de Oliveira, é apontado que a GRD obteve financiamento dos EUA e aval da Ditadura Militar para criar o que o Goebbels teria chamado de ‘arte heroica’, algo que valorizasse o pensamento conservador de direita.
Agora começa a fazer sentido que praticamente todo autor da Primeira Onda da Ficção Científica Brasileira (ou ‘Geração GRD’) seja ou tenha sido de extrema-direita. Década de 50 e 60, com toda uma tendência da sci-fi de ir sendo progressista, no Brasil, fizemos o inverso.
Na Segunda e Terceira ondas (divisão acadêmica que separa as gerações de autores de acordo com o tempo), tivemos um gradual aparecimento de autores de oposição a esse discurso fascista/integralista/ultraliberal/pró-ditadura. Não pela Editora GRD, é claro…
Essas vozes dissonantes da Segunda e Terceira Onda foram responsáveis, em grande parte, ao espaço para que mais autores surgissem depois, e autores como eu devem ser gratos a elas. ‘E o que a Editora GRD continuou fazendo, Jean?’
A Editora GRD continuou fazendo merda, é claro! Em 2017, em nome da Editora GRD, o escritor Breno Zarranz foi homenageado por Carlos Jody na Câmara dos Vereadores de Niterói (RJ). Olha o Flávio Bolsonaro ali no cantinho… Agora, vamos começar a falar um pouquinho de atualidades.
Breno Zarranz é próximo da Família Bolsonaro, diz ser historiador, responde criminalmente por vender coisas ilegais em leilão e é autor de pérolas como essa aqui.
Complementarmente, vou largar 2 reportagens aqui.
O ‘boneco que assassina Lula’ em questão é o Doutrinador, que já ganhou filme e série de TV a partir do Governo Temer. Autoria de Luciano Cunha, criador de coisas como Destro, super-herói de extrema-direita que vive numa ‘distopia petista chinesa pós-Covid-25’.
Essa ligação nem soa estranha. O @universoguara, projeto de universo de HQs BR semelhante à Marvel e DC, chutou Luciano Cunha e seu Doutrinador de seu quadro logo no início justamente por suas ideias fascistas.
Certa vez, tive a oportunidade de perguntar ao Luciano Cunha: ‘Tem previsão de quando o Doutrinador vai matar Presidente que fecha com milícia e grupo fascista?’ Ele respondeu: ‘Não tem, não’
Não admira. Luciano Cunha e Alvim têm ou tiveram alguma proximidade, já que, antes de ser bloqueado por ambos, os dois ainda eram adicionados mutuamente entre si no Facebook.
E essa conexão com Alvim talvez seja crucial para entender como autores de extrema-direita de 3 Ondas da Ficção Científica Nacional fizeram parte de uma guerra cultural subproduto da Guerra Fria, um contexto que nem existe mais.
Como em qualquer fascismo, elege-se sempre um espantalho pra bater, geralmente na forma de comunismo, e líderes messiânicos acima de tudo travestido de um nacionalismo sobre todos.
Ou seja, mesmo hoje, estamos num cenário repleto de discurso bozoloide/fascista/integralista com herança de editor supremacista branco e autor neonazi na Ficção Científica Brasileira. A boa notícia é que essa galera tá morrendo e dando espaço a novas vozes, bem mais progressistas
Paradoxalmente, fiquei chocado com essa herança, que perpassa por diversas editoras, autores consagrados, nomes importantes… Mas finalmente entendi o porquê de, com 18 livros lançados, 4 deles sendo best-sellers, eu nunca apareci em almanaques e compilados do gênero”.
Breno Zarranz é próximo da Família Bolsonaro, diz ser historiador, responde criminalmente por vender coisas ilegais em leilão e é autor de pérolas como essa aqui: pic.twitter.com/WtUd4vFS0M
— Jean Gabriel Álamo (@jga_oficial) July 30, 2021
Vamos pra aula de História e entender a origem da relação entre extrema-direita e FC brasileira?
Porque só assim entenderemos o porquê de ela hoje ser majoritariamente conservadora…— Jean Gabriel Álamo (@jga_oficial) July 30, 2021