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Piketty vê redução da desigualdade no mundo todo, exceto no Brasil

Thomas Piketty. (Joel Saget/AFP)

Da Folha:

O economista francês Thomas Piketty, 49, está de volta com um novo livro, “Capital e Ideologia”, lançado no Brasil pela Intrínseca. Em visita no ano passado ao seu World Inequality Lab, na Escola de Economia de Paris, vi que um exemplar da obra que o projetou para o mundo, “O Capital do Século 21”, servia de peso para estabilizar a base de um painel promocional do livro, para que ele não tombasse.(…) Agora, Piketty aprofunda suas exaustivas pesquisas para explicitar, entre muitas coisas, o que autor define como “ideologia dominante” —um conjunto de regras legais adotado internacionalmente que mantém a desigualdade de renda elevada em todo o mundo. (….)

Como economista preocupado com essa questão, como vê as perspectivas de um país extremamente desigual, populoso e pobre como o Brasil? Estamos no meio de uma pandemia, altamente endividados e governados por um presidente belicoso como Jair Bolsonaro.  Espero que as pessoas que votaram em Bolsonaro e contra o PT consigam agora mudar a sua visão de mundo. Não sou muito otimista quanto a isso, mas algumas vezes na história vimos inclusive governos de direita mudando radicalmente de posicionamento e plataforma diante de pressões sociais.

Se olharmos para o que o PT fez no Brasil, houve boas políticas para melhorar a situação dos 50% mais pobres, sobretudo com a política de aumentos reais para o salário mínimo e o Bolsa Família. Mas ficaram faltando as reformas estruturais, como uma modificação no sistema tributário no sentido de uma taxação mais progressiva. No fim, isso acabou contribuindo para a decepção da sociedade com o PT. Muitas vezes é preciso pensar também em reformas dentro do próprio sistema político. No Brasil, mesmo sendo eleito com 60% dos votos, o presidente pode não conseguir conquistar maioria no Congresso. E isso não é uma mudança simples de ser feita.

Na França, tínhamos um sistema político até 1945 em que o Senado não era escolhido pelo voto popular, e era muito conservador, com poder de veto em quase todas as mudanças sociais ou fiscais. Em 1945, os socialistas se tornaram fortes o suficiente para mudar o sistema eleitoral, e muitas reformas se seguiram na seguridade social e no sistema de taxação progressiva. Nos EUA, foi preciso mudar a Constituição para que fosse criado um Imposto de Renda federal, em 1913, levando o país nas décadas seguintes a ter o sistema de taxação mais progressivo da história. Portanto, muito frequentemente alterações constitucionais como essas são críticas para levar adiante as grandes mudanças econômicas e sociais.

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