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Plano de vacinação contra coronavírus revela falta de preparo do Ministério da Saúde

Ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello Foto: SERGIO LIMA / AFP

Do Globo:

O tão esperado Plano de Imunização Nacional para vacinar os brasileiros contra Covid-19 foi finalmente publicado pelo governo federal. O plano prioriza idosos, trabalhadores de saúde, indígenas, pessoas com comorbidades, trabalhadores de segurança e salvamento. Existe, claro, espaço para discutir se deveria ter priorizado profissionais de transporte público, se seria viável ou desejável incluir recortes regionais ou por classe social. Mas, enquanto nos perguntamos se o plano acertou ou errou ao definir quem deve ter prioridade para receber a vacina, fica de lado uma questão mais grave: que vacina?

Prometer começar a vacinação em março, contando com uma vacina cujos testes passam por problemas, a da AstraZeneca, única contratada pela União, parece precipitado. A CoronaVac nem sequer foi mencionada no planejamento federal, sendo que existe um acordo com o Instituto Butantan para produzi-la. A vacina da Pfizer oferece desafios de logística, mas com 95% de eficácia, é irresponsável descartá-la: ela poderia, por exemplo, ser usada em grandes metrópoles, liberando doses de outras vacinas para regiões mais remotas. (…)

O problema crucial não é decidir quem vacinar primeiro. O problema é a absoluta falta de preparo do atual Ministério da Saúde para fazer planejamento de longo prazo, e a total falta de interesse do governo e do Ministério da Ciência e Tecnologia em investir, de fato, em ciência e tecnologia. O plano de prioridades do ministro Pazuello pressupõe uma vacina perfeita: perfeitamente adequada às condições de armazenamento e transporte disponíveis atualmente no Brasil, para que não tenhamos de pensar muito e nem inovar nada, e de preferência de uma empresa só, que nos venda todas as doses de que precisamos, pelo preço que queremos e na hora em que pudermos pagar. O plano do Ministério da Saúde oferece uma vaga ideia de quem vamos vacinar primeiro assim que tivermos uma vacina que seja exatamente aquela com que o governo sonha. Só faltou combinar com a realidade.