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Plataforma online mapeia registros de assédio sexual

“Inúmeros mototaxistas estacionam suas motos no meio-fio da calçada e encostam-se às grades do Shopping Eldorado, formando um verdadeiro corredor polonês do assédio verbal. Muitas mulheres preferem atravessar a rua para não ouvir o que eles dizem sobre elas.”

Essa declaração foi deixada por uma paulistana no mapa Chega de Fiu Fiu, uma plataforma online lançada há pouco mais de uma semana que pretende identificar os lugares das cidades brasileiras onde o assédio público acontece com mais frequência. O banco de dados está sendo montado com depoimentos voluntários de vítimas e testemunhas.

A iniciativa é uma continuação da campanha Chega de Fiu Fiu, realizada em setembro do ano passado. As duas iniciativas estão hospedadas no site Olga, que discute temas relacionados ao feminismo.

A jornalista Juliana de Faria e a socióloga Bárbara Castro perceberam a dificuldade de levantar dados sobre o assunto quando decidiram colocar alguns cartazes contra o assédio nos pontos mais críticos da cidade. “Resolvemos levantar os números nós mesmas com um mapa colaborativo”, diz Juliana.

Para as fundadoras do projeto, com esses dados em mãos ficará mais fácil “bater na porta, principalmente do setor público” para pedir mudanças. “Se nós chegássemos somente com uma denúncia, não teria o mesmo impacto do que um mapa com um grande número de queixas.”
Além disso, elas pretendem criar parcerias com ONGs em outros estados para elaborar campanhas contra o assédio.

Segundo Bárbara, muitas pessoas imaginam que a agressão só ocorre em terrenos baldios ou lugares sem iluminação pública. Mas, como já mostra a plataforma, “a violência acontece em todo e qualquer espaço da cidade”.

Os registros são classificados por cidades e tipos de assédio: verbal, físico, ameaças, intimidação, atentado ao pudor, estupro, violência doméstica e exploração sexual. Três dias após o lançamento da plataforma, o banco de dados já tinha cerca de 350 depoimentos.
Entre as cidades no topo da lista estão São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba. Assédios verbais e físicos lideram a lista de reclamações, seguidos por atentado ao pudor.

Para as criadoras do projeto, com uma boa base de dados em mãos é possível exercer pressão social. “Podemos ir a uma casa noturna e falar: como assim no último mês temos denúncias de 500 mulheres que foram ‘encoxadas’ dentro do estabelecimento? Os seguranças não estão atentos?”

Para Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres no Brasil, plataformas como esta são importantes para chamar a atenção e dar visibilidade ao assunto. “A iniciativa ajuda a gerar reflexão entre as mulheres que já foram vítimas de assédio e entre os homens que já praticaram assédio sem ao menos se dar conta de que esta era uma violação do espaço de outra pessoa”, diz.

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