Pobreza pode alcançar quase 30% da população com fim do auxílio emergencial na pandemia

De Letycia Cardoso e Raphaela Ribas no Globo.
Durante nove meses, em 2020, o auxílio emergencial funcionou como uma espécie de anestesia para as famílias diante do impacto sem precedentes provocado pela pandemia na economia. Houve até redução da desigualdade.
A partir de janeiro, com retirada do benefício ainda em um quadro de crise, voltou a se abrir o fosso social do país, dizem especialistas, arrastando para a pobreza ainda mais brasileiros que os que estavam nessa condição antes da pandemia. A busca por emprego se torna um desafio ainda maior para os mais pobres.
Nos cálculos do economista Daniel Duque, pesquisador da FGV, com o fim do auxílio, a fatia da população na pobreza deve chegar a 29,5%. A extrema pobreza deve alcançar 9,7%. As regiões Nordeste e Sudeste, segundo ele, são mais impactadas:
— Apesar de o Sudeste ser uma das regiões mais ricas do país, junto ao Sul, foi bastante afetado por causa da pandemia mesmo. Rio de Janeiro e São Paulo foram estados que sofreram muito no sentido de saúde, o que influenciou o mercado de trabalho.
A renda emergencial para quase 70 milhões de pessoas, ao custo total de R$ 292, 9 bilhões para os cofres públicos, reduziu o índice de Gini, que mede a desigualdade numa sociedade, de 0,53 para 0,47. Ficou abaixo de 0,50 pela primeira vez no Brasil, segundo estudo dos economistas Naércio Menezes Filho, Bruno Komatsu e João Pedro Rosa. Quanto mais próximo de 1, mais desigualdade.
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