Pode ter havido ‘excessos’, admite primeiro militar a ser reconhecido pela Justiça como torturador
Um muro transparente, de vidro, guarda a residência de um dos mais famosos agentes da ditadura. Gaúcho radicado em Brasília, o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra foi o primeiro militar a ser reconhecido pela Justiça como torturador.
Avesso a entrevistas, Ustra abriu uma exceção ao receber o jornal Zero Hora em sua casa no Lago Norte.
Nos três anos e quatro meses em que comandou o Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), em São Paulo, 502 pessoas teriam sido torturadas no local e 50 mortas pelo órgão. Ustra insiste, há décadas, em negar todas as acusações, apesar dos inúmeros relatos de ex-presos e até de ex-agentes.
Em outubro de 1985, a então deputada Bete Mendes reconheceu Ustra como seu torturador – fato que levou o nome do militar (na ocasião adido militar no Uruguai) às primeiras páginas de jornais de todo o país.
Prestes a completar 82 anos, Ustra diz manter uma rotina agitada. Além de sessões de acupuntura, leva a esposa e o neto ao médico, vai ao mercado, envia exemplares de seu último livro, A Verdade Sufocada, pelos Correios.
Também dedica mais de cinco horas por dia para selecionar e responder e-mails.
Nesta entrevista, Ustra admite, pela primeira vez publicamente, que “excessos” podem ter sido cometidos. Ele ainda assume que usava o codinome de Doutor Tibiriçá e que também participava dos interrogatórios de militantes presos pelo regime.
Ustra diz ter cumprido sua missão ao evitar que o comunismo fosse implantado no Brasil.
Saiba Mais: Zero Hora