Apoie o DCM

Policial que acredita ter matado menino Eduardo sofre colapso e é internado em hospital

Do Globo:

 

Em um depoimento à própria corporação, um soldado lotado na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Morro do Alemão disse que pode ter sido o autor do disparo que provocou a morte de Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos, na tarde da última quinta-feira. O caso, mantido em sigilo, vem sendo acompanhado pela 8ª Delegacia de Polícia Judiciária das UPPs. Em seu relato, o PM afirmou acreditar que, devido à sua localização no momento da tragédia — ele estava próximo a uma mata na localidade conhecida como Areal, na Favela Nova Brasília — e à posição do corpo, foi ele quem atirou no menino.

Logo depois de prestar o depoimento, o soldado teve um surto psicótico e chegou a ser internado no Hospital Central da Polícia Militar, no Estácio. Embora tenha recebido alta, ele continua sendo submetido a um tratamento na unidade de saúde.

A 8ª Delegacia de Polícia Judiciária das UPPs checa a conduta dos policiais que participavam de uma operação no Complexo do Alemão no momento em que Eduardo foi atingido. A investigação corre paralelamente ao trabalho da Divisão de Homicídios (DH) da Polícia Civil, que apura a morte de menino.

Dois soldados da UPP do Alemão disseram aos responsáveis pela averiguação, que abriram fogo para revidar tiros disparados por bandidos, mas apenas um deles admite ter atingido a criança. A 8ª Delegacia de Polícia Judiciária das UPPs, que faz parte da Corregedoria Interna da PM, já ouviu 11 homens, incluindo um tenente. Já a DH recebeu depoimentos de 16 pessoas, incluindo moradores que acusam PMs de terem recolhido cápsulas perto do corpo da vítima. O projétil que atravessou a cabeça do menino não foi encontrado por peritos.

De acordo com investigadores da Polícia Civil, dois dos 11 PMs que prestaram depoimentos na DH apresentaram versões contraditórias sobre a operação. Isso levou a unidade especializada a ouvi-los mais de uma vez, sobretudo para esclarecer um possível recolhimento de cápsulas. Se for comprovado que isso aconteceu, os policiais envolvidos no caso poderão ser indiciados por fraude processual, crime cuja pena prevista varia de três meses a dois anos de prisão.

A DH planeja realizar na semana que vem, provavelmente na quarta-feira, a reconstituição da morte de Eduardo e também de Elizabeth de Moura Francisco, de 41 anos, atingida dentro de casa por dois tiros no último dia 1º. Ela morava na Favela Nova Brasília, que faz parte do Complexo do Alemão. Investigadores recolheram fragmentos de bala no interior do imóvel. O material está sendo analisado pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli, que encontrou compatibilidade com a munição usada por PMs.