Apoie o DCM

Politécnicos da USP lançam manifesto pelo impeachment de Bolsonaro

Jair Bolsonaro. (Foto: MANDEL NGAN / AFP)

Alunos da Politécnica da Univerdade de São Paulo (USP) anunciaram um manifesto pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro.

O manifesto está aberto à assinatura de toda a comunidade – entendida como alunos e ex-alunos dos cursos de graduação e pós-graduação, docentes e funcionários da Escola.

Leia íntegra do manifesto abaixo:

Nós, membros da comunidade da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, sabedores de nossos deveres públicos em relação à excelência do ensino, da pesquisa e da prática profissional, consideramos que o conhecimento científico, a produção tecnológica e o exercício cotidiano da Engenharia devem estar a serviço do desenvolvimento nacional e da contínua melhoria do padrão de vida dos brasileiros.

Percebemos que este é um momento de extrema gravidade, em que a Nação corre sérios riscos e o povo sofre intensamente. São anos seguidos de encolhimento da capacidade produtiva do país e de acentuada desindustrialização. A infraestrutura do país está abandonada e obsoleta, sem que os investimentos alcancem sequer sua taxa de depreciação. O próprio conceito vital de planejamento foi substituído pelo casuísmo e pelo improviso.

A pesquisa tecnológica sofre drásticos cortes e contingenciamentos de verbas dos órgãos de financiamento e das empresas públicas. Estamos mergulhados na trágica carência de insumos necessários para a produção de vacinas. Esse drama se sucede a crises recentes na oferta de máscaras, respiradores, ventiladores, seringas e vidraria. Ficamos reféns de uma disputa internacional por tais produtos, agravada por movimentos diplomáticos descolados do interesse nacional.

A Engenharia brasileira tem capacidade de contribuir decisivamente para o desenvolvimento sustentável em todas as frentes produtivas e o Brasil pode ser modelo mundial em áreas como as de energias renováveis, materiais “verdes” e produção agrícola ecologicamente adequada. Essa capacidade, no entanto, é sabotada por um governo que prefere estimular práticas predatórias na agropecuária e na mineração, associando-se à destruição provocada pelas queimadas e pela expansão descontrolada das fronteiras agrícolas, inclusive sobre áreas indígenas e de proteção ambiental.

A pandemia de Covid-19 escancarou esses descaminhos. O desprezo à Ciência e ao papel do Estado como gestor da crise gera situações de descalabro e mata centenas de milhares de pessoas. A subnotificação de mortes por Covid, a desinformação deliberada, as múltiplas tentativas de calar a racionalidade, as abertas ameaças à Democracia e aos demais Poderes são marcas de um governo que consegue tornar a pandemia ainda mais letal, intensificando a desorganização da sociedade. Há deboche sobre os efeitos da doença, desprezo em relação à situação financeira das famílias, empresas, prefeituras e governos estaduais. Os profissionais do SUS são colocados em risco, e ao mesmo tempo, se veem sem suporte e sem qualquer respeito por seu conhecimento acumulado e provado.

São mais de 210 mil mortos. Quase 70 milhões de brasileiras e brasileiros, que escaparam da fome graças ao auxílio emergencial, aprovado pelo Congresso a despeito da feroz oposição inicial do governo. É imprescindível que o suporte financeiro a essas famílias se mantenha para permitir o isolamento social necessário à redução da contaminação até que a vacinação generalizada seja uma realidade. A conquista civilizatória que foi o desenvolvimento de vacinas eficazes e seguras em tempo recorde precisa se converter, urgentemente, em proteção efetiva das pessoas, tirando proveito da exitosa experiência nacional em programas de vacinação em massa.

Nada disso é possível quando o presidente da República age no sentido oposto.

É por nossa responsabilidade como politécnicos e brasileiros que nos associamos a todos os democratas para deixar pública a nossa indignação e exigir o impedimento do Sr. Jair Messias Bolsonaro, nos termos da nossa Constituição e das nossas Leis, por comprovada soma de crimes de responsabilidade, devidamente apontados nas dezenas de petições já protocoladas no Congresso Nacional.

São Paulo, 25 de janeiro de 2021