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“Por Bolsonaro, criou-se uma perigosa tensão entre governos e as polícias”, diz Haddad na Folha

Fernando Haddad. Foto: MAURO PIMENTEL / AFP

Da Coluna de Fernando Haddad na Folha de S.Paulo.

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Policiais, enfermeiras e professoras são, em geral, profissionais dedicados, nem sempre valorizados quanto à formação e remuneração, encarregados das nobres tarefas que garantem nosso bem-estar.
Por razões históricas, contudo, o tema da segurança sempre inspirou cuidados. Não é casual o fato de o constituinte de 1988 não ter enfrentado a questão. Num país escravocrata e patrimonialista, a relação entre segurança e direito é mais complexa.

Praticamente todos os levantes ocorridos no Brasil por liberdade, igualdade ou acesso à propriedade foram sufocados por forças policiais.

O direito humano à segurança sempre foi usado contra a luta social por todos os demais direitos reconhecidos pela modernidade, na forma de repressão ao ativismo político e sua consequente criminalização.

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Mas não podemos descuidar de dois problemas que a ascensão da extrema direita fez ressurgir. O fortalecimento das milícias —com as quais o clã Bolsonaro mantém íntima relação—, regra geral derivada da corrupção policial.

E o conflito federativo com “sinal trocado”: se na República Velha, governadores utilizaram suas brigadas e polícias para confrontar o governo central, hoje, com e por Bolsonaro, criou-se, de cima para baixo, uma perigosa tensão entre os governos estaduais e as polícias militares. Um novo foco de crise institucional.