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Por que os remédios para ferimentos dos anos 80 e 90 ardiam tanto?

Mãe trata ferida no joelho de criança. Foto: reprodução

Se você viveu sua infância entre os anos 70, 80 ou 90, certamente se lembra da ardência quase traumática de levar um “tapinha” de Merthiolate ou mercúrio cromo nos joelhos ralados. Bastava cair da bicicleta ou tropeçar na calçada para o ritual se repetir: a ferida ardia mais com o remédio do que com o tombo. Mas por que, afinal, esses antissépticos doíam tanto?

A resposta está na composição dos produtos daquela época. O Merthiolate original continha timerosal, um composto à base de mercúrio, altamente eficaz como antisséptico, mas também bastante agressivo ao tecido machucado. O mercúrio cromo, por sua vez, levava mercurocromo, outro derivado de mercúrio que coloria a pele de vermelho ou laranja — e também causava ardência intensa.

Na época, acreditava-se que “se está doendo, é porque está fazendo efeito”. A ardência fazia parte do tratamento, um tipo de castigo pedagógico para os pequenos aventureiros. Era comum ouvir frases como “engole o choro”, mas com o avanço da medicina, descobriu-se que a dor não era necessária e que o mercúrio podia ser tóxico, especialmente em uso prolongado ou sobre áreas extensas da pele.

Nos anos 2000, a Anvisa proibiu o uso de compostos de mercúrio em produtos de uso tópico no Brasil. Hoje, o Merthiolate ainda existe como marca, mas com fórmulas modernas que não ardem e não têm mercúrio. Já o mercúrio cromo desapareceu do mercado, substituído por antissépticos mais seguros, como clorexidina, iodopovidona ou até mesmo o clássico álcool 70%.