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Por se alimentar da vaia, Bolsonaro é o Pedro de Lara da extrema direita

Jair Bolsonaro e Pedro de Lara. Foto: Wikimedia Commons

O jornalista Octavio Guedes, comentarista da GloboNews, fez essa comparação no G1.

“O maior trunfo político da comissão [CPI da Covid] foi resgatar o Brasil do cercadinho, onde Bolsonaro o manteve em cativeiro por mais de dois anos. Desde que tomou posse, o presidente virou o dono exclusivo da pauta da país. Era ali, no cercadinho, o analógico e o digital, que Bolsonaro, como animador de um show de bizarrices, desfilava grosserias, infâmias, vulgaridade e baixezas. Pronto. Estava dada a pauta do dia. Agora, era só esperar as repercussões, reações indignadas e notas de repúdio. Para Bolsonaro, isso era ótimo. Afinal, ele conseguia colocar a oposição no papel de auditório, de coadjuvante.

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E, como vivemos na era da política pop, cabe uma explicação bem pop. Enquanto a maioria dos políticos age como a Elke Maravilha, ou seja, busca o aplauso da maioria, o personagem Bolsonaro sempre se alimentou da vaia. Ele é uma espécie de Pedro de Lara da extrema direita. Vamos lembrar: quanto mais vaiado pelo auditório, mais extravagante Pedro de Lara ficava, mais gestos hostis fazia para a plateia e mais grosseiro era com os calouros. As vaias alimentavam o personagem.

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Assim é Bolsonaro. Para seu cercadinho gritar ‘mito’, é preciso ter a sensação de estar na contramão da maioria. O auditório, na lógica bolsonarista, simboliza o ‘sistema’, o ‘poder’. E o cercadinho quer ser antissistema. Se o auditório grita ‘máscara’, o cercadinho brada ‘cloroquina’. É assim que ele se diferencia e se imagina lutando contra tudo que pareça ‘o sistema'”.

E completa:

Em 2018, por razões diversas, 57 milhões de eleitores pularam para seu cercadinho. Mas quem pensou que Bolsonaro seria o presidente de todos, ou que iria moderar o discurso para continuar falando com os 57 milhões, se enganou. Mesmo como presidente, ele dá show apenas para seu cercadinho. Ele só consegue representar o Pedro de Lara.

A estratégia de circo deu certo até o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) propor a CPI da Covid. ‘Quando apresentei o requerimento para instalação da comissão, minhas expectativas eram rebaixadas. Não esperava, sequer, o número suficiente de assinaturas’, lembra. O maior aliado de Bolsonaro no Senado, o ex-presidente David Alcolumbre, enganou o governo. Prometeu impedir a CPI e não entregou.

A partir de então, a oposição, pela primeira vez, passou a ditar a pauta nacional. Não fica mais esperando as aberrações de Bolsonaro para repercutir e repudiar, sempre passivamente. Conseguiu dominar o noticiário e monopolizar os debates nas redes sociais. Pedro de Lara deixou de ser a diva do show.

Mas Bolsonaro não entregou o pontos. Percebeu que não está mais sozinho no picadeiro e dobrou a aposta. A realização da Copa América, as aglomerações dos passeios de moto e o ataque ao uso de máscara fazem parte da tentativa de retomar o show. ‘Agora que aprovamos a quebra dos sigilos e estamos no caminho do dinheiro, não há dúvidas de que Bolsonaro irá radicalizar’, prevê Randolfe”.

Com informações do G1.