Primeiro júri de ataque neonazista no Brasil está parado há quatro anos

Da Folha:

Passados 12 anos, o júri do caso que poderia ser o primeiro de um grupo neonazista no Brasil não tem data para acontecer. O julgamento, inicialmente marcado para junho de 2013, foi suspenso porque dois dos quatro réus não foram localizados.

Nos últimos quatro anos, o processo mudou de promotores, alguns réus trocaram de advogados e as três vítimas preferiram esquecer o caso e permanecer em silêncio.

Segundo o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, o processo aguarda a decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) sobre dois recursos —um apresentado pelo Ministério Público e outro por advogados dos réus.

Os defensores pedem que a acusação mude para lesão corporal —o que tiraria o processo do júri e o levaria para um juiz.

(…)

O caso aconteceu na noite de um sábado, 8 de maio de 2005. Três rapazes estavam reunidos na esquina das ruas República e Lima e Silva, no coração da Cidade Baixa, em Porto Alegre. Um ponto de encontro tradicional de jovens e universitários. Dois deles usavam quipás na cabeça —espécie de chapéu na religião judaica.

A data marcava 60 anos do fim da Segunda Guerra. No meio da conversa, um dos jovens com quipá chamou a atenção dos outros dois. Um grupo de pessoas, com idades entre 15 e 30 anos, cabeças raspadas e usando coturnos pretos com cadarços brancos, se aproximou. Um dos membros apontou para os jovens: “tem judeu lá”.

Em questão de segundos, os três jovens começaram a levar pontapés, socos e facadas. Uma das vítimas terminaria perdendo um rim e 80% do pulmão esquerdo.

O inquérito da Polícia Civil identificou 14 responsáveis pelo ataque. O processo ouviu 16 testemunhas de acusação e 26 de defesa. Os agressores foram indiciados por formação de quadrilha, tentativa de homicídio qualificado e racismo. Quatro deles chegaram a ser presos preventivamente, mas foram liberados em seguida.

Uma das vítimas foi D. (que pediu para não ser identificado). Ele disse à Folha que cansou de esperar o julgamento. “Eu não sei se estaria disposto a passar por todas as audiências de novo. Passou tanto tempo, eles já esqueceram quem eu sou. Não me importo que eles estejam soltos, desde que não repitam isso com ninguém”.

(…)

Erika K Nakamura

Erika K. Nakamura, 36 anos, advogada de formação, abraçou a fotografia e o jornalismo por paixão. Com seu iPhone 5 capta imagens originais e surpreendentes dos lugares pelos quais passa. É uma leitora sedenta de livros sobre a história da Inglaterra -- e também dona do coração do jornalista Paulo Nogueira.

Disqus Comments Loading...
Share
Published by
Erika K Nakamura

Recent Posts

Huck dá festa Madonna e 120 “vips” no Copacabana Palace: “Nada de fotografia!”

A noite de Madonna no Rio de Janeiro após seu show terminou em uma festa…

8 minutos ago

Desmentindo fake news bolsonarista, Janja visita abrigo em Canoas (RS)

A primeira-dama Janja da Silva esteve neste domingo (5) em um abrigo do Sindicato dos…

37 minutos ago

Jair Bolsonaro anuncia nova internação: “Sem previsão de alta”

Jair Bolsonaro foi internado no hospital Santa Júlia neste domingo (5) em Manaus, Amazonas. Em…

2 horas ago

CEO do BB vê machismo por ter tido aumento salarial negado: “Não posso me calar’

A presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, teve sua proposta de aumento salarial de…

2 horas ago

Deputado bolsonarista pede doações ao RS indicando Pix de organização goiana

O deputado estadual Leonel Radde (PT-RS) usou as redes sociais neste sábado (4) para alertar…

2 horas ago

VÍDEO: Dudu Camargo chama Madonna de “picareta” e é expulso de programa de TV

Dudu Camargo causou polêmica ao comentar sobre o show de Madonna em Copacabana, ocorrido neste…

2 horas ago