Professora conta detalhes dos ataques que sofreu após debater gênero em sala de aula

Foto: Arquivo pessoal
Em 2019, professora Virgínia Ferreira sofreu ataques e foi alvo de processos após ter dado uma atividade sobre feminismo e violência contra a mulher na semana do Dia Internacional da Mulher na escola que trabalhava. Na última quinta-feira (12), ela contou detalhes sobre o caso para o relatório “Tenho medo, esse era o objetivo deles: esforços para proibir a educação sobre gênero e sexualidade no Brasil”, lançado pela ONG internacional Human Rights Watch (HRW).
Os atos de violência e ações judiciais contra Vírginia aconteceram logo após ela ter sido gravada por uma de suas alunas e denunciada pelo pai da estudante. A docente foi acusada por funcionários do governo municipal de “doutrinação” e “prejuízos no aprendizado dos alunos”.
“Naquele mês, o grupo de direita, Movimento Brasil Livre, publicou uma série de posts em sua conta no Facebook acusando Virginia de ‘doutrinação’. Algumas das postagens continham áudios – gravados em segredo por uma estudante – de Virginia falando em sala de aula”, constou o relatório.
Além disso, segundo o documento, o vereador de São Paulo Fernando Holiday descreveu o trabalho de Virginia como um “exemplo trágico de professores doutrinando alunos em sala de aula” e “proselitismo político”.
“Algumas das ameaças feitas eram pedindo uma punição exemplar. Aqui, entendi que as ameaças eram sobre demissão. Em um dos posts havia um comentário de que eu merecia um soco na cara. Vi muita violência psicológica e moral, tentando desacreditar meu trabalho”, afirmou Virgínia.
“Havia uma série de comentários desqualificadores de pessoas que não me conhecem, não conhecem o meu trabalho e nunca passaram na porta da escola”, contou a professora.
“Continuei indo à escola, mas com insegurança. Senti que corria o risco de ser demitida. Amo o que faço, trabalhar com alunos me sustentou, mas psicologicamente tive problemas […] ansiedade, incerteza, sensação de perseguição. Eu tinha medo de andar nas ruas daqui. Vinhedo é uma cidade pequena e moro aqui há mais de 30 anos, então as pessoas me conhecem (…) A exposição pública também é desgastante, e tem gente mais radical que incentiva a violência. Você se sente vulnerável. E de uma forma maldosa porque não havia debate. Havia julgamento e ataque”, lamentou.
“A escola é um ambiente em que a gente identifica violências contra crianças e adolescentes. É um espaço em que muitos alunos se sentem seguros para compartilhar vivências das suas casas, então eu tenho certeza da pertinência desse conteúdo”, defendeu Virgínia