Promotor usa vinagre como prova e ignora infiltrado do Exército em denúncia contra manifestantes
O Ministério Público do Estado de São Paulo denunciou, por associação criminosa e corrupção de menores, 18 manifestantes de um ato Fora Temer presos pela PM em 4 de setembro no Centro Cultural São Paulo, na zona sul da capital paulista.
Veja a íntegra da denúncia – 1 2 3 4 5
Na denúncia, enviada em 15 de dezembro ao juiz de direito da 3ª Vara Criminal Criminal da Capital, o promotor Fernando Albuquerque Soares de Souza afirma que os 18 adultos e os três adolescentes detidos no CCSP “associaram-se para a prática de danos e danos qualificados consistentes na destruição, inutilização e deterioração do patrimônio público e privado e lesões corporais em policiais militares”.
Para justificar a denúncia, o promotor aponta o fato de a polícia ter apreendido com os manifestantes frascos com vinagre (“utilizado para minorar os efeitos do gás que a polícia usa para debandar arruaceiros”) e materiais de primeiros socorros (“que seriam utilizados em comparsas que viessem a sofrer lesões no confronto com policiais militares”) e um “disco de metal que seria utilizado como escudo”, além de uma câmera fotográfica, que os suspeitos usariam para “registro de ações criminosas e posterior divulgação em redes sociais e outros meios de veiculação de ideias”.
Dos objetos listados na denúncia, apenas um seria capaz de provocar danos: uma barra de ferro, que, segundo o promotor, serviria “para desferir golpes que lesionariam policiais e danificariam patrimônio público e particular”.
A presença da barra de ferro com os integrantes do grupo, contudo, está cercada de dúvidas: o jovem com quem o objeto teria sido apreendido nem ao menos levava mochila e afirma que a barra foi “plantada” no local por um policial, informação confirmada pelo testemunho de outros manifestantes presos. Segundo o jovem, a barra teria sido deixada pelo soldado Farani, que também o teria agredido com um soco nas costelas. Atualmente, o soldado é alvo de um procedimento no Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais) que apura a denúncia de agressão.
Esqueceram do capitão
Nada disso aparece na denúncia do promotor. Albuquerque também omite a principal controvérsia envolvendo a prisão dos jovens no CCSP: a presença do capitão do Exército Willian Pina Botelho, que havia se infiltrado entre os jovens detidos com o nome falso de Balta Nunes.
Em outubro, o comandante-geral do exército, general Eduardo da Costa Villas Boas, afirmou à Rádio Jovem Pan “houve uma absoluta interação” do Exército com o governo Geraldo Alckmin (PSDB) no episódio do CCSP. Dois meses depois, o Exército recuou e, numa resposta dirigida a um ofício do deputado federal Ivan Valente (PSOL), disse que o governo paulista não sabia das ações de Botelho nem teria passado informações à polícia que levaram à prisão dos manifestantes.
A versão do promotor na denúncia repete a afirmação dos policiais militares, registrada no boletim de ocorrência do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), de que teriam ido ao CCSP avisados por “populares”. Não há registro de quem seriam os “populares”, nem explicação de como a denúncia teria levado a PM a mobilizar, de uma hora para outra, o aparato que utilizou na detenção dos manifestantes: dez viaturas, um ônibus e um helicóptero.
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