Propagandeada por Alexandre Garcia, ivermectina é bom para piolho, não para covid-19

De Natalia Pasternak e Carlos Orsi da Revista Questão de Ciência no ViverBem do UOL.
Não existe, até agora, remédio conhecido capaz de evitar a infecção pelo vírus Sars-CoV-2, de garantir que os sintomas sejam leves, uma vez que a doença esteja instalada, ou de garantir que pessoas contaminadas tornem-se menos contagiosas. Este é um fato médico tão bem estabelecido quanto, por exemplo, o de que não se deve receitar aspirina para pacientes de dengue.
A despeito disso, chegam de toda parte notícias de médicos receitando freneticamente o antiparasitário ivermectina para pacientes com suspeita de covid-19, e de pessoas achando que estão protegidas da doença porque se submetem a um regime semanal do mesmo medicamento —protegidas ao ponto de decidirem ir para a balada como se não houvesse amanhã (e, assim, trabalhando para que realmente não haja). É um tsunami de erro, negligência e autoengano.
Só para deixar claro: ivermectina é inútil contra covid-19.
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A ivermectina é um antiparasitário, muito usado para controle de piolho, pulgas e carrapatos em animais, incluindo seres humanos, e algumas verminoses. Atua no sistema nervoso central de animais invertebrados, provocando paralisia muscular. A dose recomendada, em geral, não ultrapassa 200 μg/kg, isto é, 200 microgramas por quilograma de peso corporal do paciente, e o medicamento costuma ser usado em dose única.
Nas doses recomendadas, o fármaco não chega no sistema nervoso central de mamíferos, e por isso é muito bem tolerado. Para algumas raças de cães, no entanto, por causa de uma mutação genética, a droga é extremamente tóxica, exatamente por atacar o sistema nervoso.
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