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Quando religioso era retratado como homossexual na TV e não havia queixas

Personagem Painho, de Chico Anysio

Do UOL:

Entre aqueles que se sentem ofendidos com o especial de Natal do grupo Porta dos Fundos, muitos recomendam aos jovens comediantes independentes que sigam o modelo de humoristas do passado. Chico Anysio, por exemplo. Mestres assim, defendem esses “comentadores”, não usariam o expediente de brincar com figuras religiosas, muito menos questionar-lhes a sexualidade.

Quem usa esse argumento não tem memória. Entre as dezenas de personagens criados por Chico Anysio, muitos certamente vão lembrar de um que fez grande sucesso: Painho. Era o pai de santo que demonstrava claramente ser homossexual. Tinha trejeitos afeminados, cílios postiços, maquiagem, bijuterias e voz lânguida.

Sentado em uma cadeira de vime, o líder de uma religião afrobrasileira (não se sabe se candomblé ou umbanda) conversava com as seguidoras, sempre dando pistas de suas escolhas sexuais. Volta e meia, se espreguiçava e soltava o bordão “Afffe… Eu tô morta!”

Para não restar qualquer dúvida, o terreiro que comandava tinha o nome de Abaitolá. Desnecessário recordar que no Nordeste os gays são chamados pejorativamente de “baitolas” por alguns. (…) Como se vê, fazer humor a partir da religião não é nenhuma novidade no Brasil. Exemplar de outro tipo, sem matizes de sexualidade, era o personagem Tim Tones, também de Chico, um pastor inescrupuloso que só pensava em dinheiro. Seu bordão era “Podem passara sacolinha”. Também não causou maiores turbulências na época em que foi sucesso. Imagine se fosse apresentado hoje.

(…)