Recepcionista sofreu racismo, venceu ação e diz: “Chefe sugeria que eu alisasse cabelo”

Imagem: Arquivo Pessoal
De Nathália Geraldo no Universa do UOL.
Uma decisão do Tribunal Superior do Trabalho que condenou o laboratório Fleury a pagar indenização para uma ex-funcionária por discriminação racial explicita um tipo de racismo reproduzido dentro de empresas, privadas e públicas: o institucional.
A Justiça definiu que o laboratório deverá pagar indenização de R$ 10 mil à ex-funcionária Mayara Oliveira de Carvalho. Ela, uma mulher negra com cabelo black power, era recepcionista do Fleury na unidade Villa-Lobos, em São Paulo, em 2017. No período em que trabalhava na empresa, havia um “guia de padronização visual” de que não constavam fotos de pessoas negras, apenas de pessoas brancas.
No julgamento, a ministra relatora Delaíde Miranda Arantes destacou que “a falta de diversidade racial no guia de padronização visual da reclamada [empresa] é uma forma de discriminação, ainda que indireta, que tem o condão de ferir a dignidade humana e a integridade psíquica dos empregados da raça negra, como no caso da reclamante [ex-funcionária], que não se sentem representados em seu ambiente laboral”.
Mayara Oliveira de Carvalho contou a Universa que após ser contratada para a função, foi apresentada às regras.
“No processo seletivo, foi falado sobre maquiagem e cabelo. A regra fundamental era de que, se o cabelo passasse dos ombros, tinha que ser preso. E quem tinha franja, teria que colocá-la de forma discreta”, explica. “Mas, meu cabelo não forma franja e não tem caimento abaixo dos ombros”, conta.
Ou seja, pelas regras, poderia deixá-lo solto. Entretanto, ela conta que a supervisora pedia para que ela fizesse escova no cabelo, prendesse os fios ou os deixasse “da forma mais discreta possível”. A ideia, segundo Mayara, era “manter uma aparência agradável para os clientes”. O uso de uma tiara para quem tinha franja era obrigatório. O acessório também era sugerido à ex-funcionária -mas, pelo volume, ele não ficava fixo.
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