Reinaldo Azevedo: Atitude de Michelle Bolsonaro com obras sacras lembra a dos talibãs

Em seu blog, Reinaldo Azevedo analisa a escolha da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, em tirar do Palácio da Alvorada as obras sacras:
É uma vergonha! Se não houver um recuo, obras sacras serão retiradas do Palácio da Alvorada, futura morada do casal Bolsonaro, porque Michelle, primeira-dama a partir de 1º de janeiro, não as quer lá. Evangélica da Igreja Batista, ela se indispôs com a temática religiosa das obras de arte, de inspiração católica. A notável senhora deve considerar que tais manifestações são incompatíveis com a sua crença. Trata-se de um despropósito, de um despautério, de uma agressão à pluralidade, às artes, à cultura, à história e à tradição brasileiras.
Qual é a diferença entre a decisão de Michelle e a dos terroristas dos Taliban, que mandaram dinamitar os dois Budas de Bamiyan, no Afeganistão? Em essência, nenhuma. É apenas de grau. Sim, claro!, o destino das obras é outro: Michelle mandou tirar da sua vista; os terroristas deram um fim nas esculturas do Século V, que precediam a existência do próprio islamismo. Então o que há em comum? As duas posturas se caracterizam por intolerância religiosa e acreditam que seu Deus, ou sua forma de entendê-lo, deve ter um poder normativo que apaga até a história do país em que atuam.
(…)
Lembro-me de um post que escrevi em meu blog com críticas ao procurador Jefferson Aparecido Dias, da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, de São Paulo. Em 2012, ele entrou com uma ação civil pública para retirar das notas de real a expressão “Deus seja louvado”. Era o mesmo rapaz que se mobilizou para caçar e cassar todos os crucifixos de prédios públicos, lembram-se?
Em sua ação, o doutor escreveu a seguinte barbaridade:
“A manutenção da expressão ‘Deus seja louvado’ […] configura uma predileção pelas religiões adoradoras de Deus como divindade suprema, fato que, sem dúvida, impede a coexistência em condições igualitárias de todas as religiões cultuadas em solo brasileiro (…). Imaginemos a cédula de real com as seguintes expressões: ‘Alá seja louvado’, ‘Buda seja louvado’, ‘Salve Oxóssi’, ‘Salve Lord Ganesha’, ‘Deus não existe’. Com certeza haveria agitação na sociedade brasileira em razão do constrangimento sofrido pelos cidadãos crentes em Deus”.
Sob o pretexto de defender a igualdade religiosa, o doutor promovia, parece-me óbvio, a intolerância. E, obviamente, expressei minha repulsa intelectual a seu pensamento. É a mesma repulsa que expresso agora. Indaguei, naquelas vezes, quando é que proporiam dinamitar o Cristo Redentor. Ou mudar o nome de São Paulo, São Sebastião do Rio de Janeiro, Santa Catarina, Espírito Santo… Estamos diante, no caso da decisão do casal Bolsonaro, de um novo tipo de intolerância. Eu me opus às barbaridades antes. Oponho-me agora.