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Reinaldo Azevedo sobre futuro governo desastroso: Bolsonaro acerta quando recua e erra quando avança

A Coluna de Reinaldo Azevedo na Folha de S.Paulo faz um balanço dos primeiros dias do governo eleito. “Sou fã dos recuos de Jair Bolsonaro. Até agora, eu os defendi a todos, sem exceção, antes mesmo que o presidente eleito voltasse atrás. Fusão da Agricultura com o Meio Ambiente? Bobagem. Insistir numa reforma da Previdência ainda neste ano? Bobagem. Extinguir o Ministério do Trabalho agora? Bobagem. Transferir as universidades para o Ministério da Ciência e Tecnologia? Bobagem. O problema não está em mudar de ideia. Preocupante é não ter ideia do que fazer”.

Reinaldão desenvolve o raciocínio: “Bolsonaro tem Donald Trump como seu mito privado, não Margaret Thatcher. Apontem aí que reforma drástica o presidente dos EUA teve de fazer. Exceção à do discurso, nenhuma! Deu-se até a licença para liberar as forças do ódio, que alguns celerados chamam de ‘defesa do Ocidente’. Com um pouco menos de impostos. A economia que herdou lhe permitiu as momices do populismo de direita. Não é o caso de Bolsonaro, um populista de direita sem dinheiro. Não existe economia virtuosa, por mais talentosa que seja a equipe que cuida do assunto, com uma administração que pode entrar em colapso. A ligeireza com que se trata a gestão também se verifica no discurso, com repercussões negativas, antes mesmo da posse, na China, no Mercosul e em países árabes, o que já alarmou o agronegócio e um pedaço considerável da indústria”.

E fala sobre as crises atuais e futuras, incluindo a indicação mais polêmica do eleito pro governo: “o mais recente efeito da falta de modos pode resultar numa debandada dos médicos cubanos. Nem eu nem Bolsonaro gostamos do castrismo. Mas é preciso pôr na conta nossos barrigudinhos. Os problemas do ‘Mais Médicos’, e eles existem, não têm como ser corrigidos com menos médicos para os pobres. Entenderam o ponto? Por enquanto, o que se tem é uma loquacidade contraproducente. Caso exemplar desses dias é a resposta que o presidente eleito deu ao que considera um Itamaraty ineficiente. Prometeu para a pasta um chanceler que daria prioridade aos negócios, não à ideologia. O escolhido é Ernesto Araújo. O futuro ministro diz de si mesmo: ‘Quero ajudar o Brasil e o mundo (sic) a se libertarem da ideologia globalista (…). A globalização econômica passou a ser pilotada pelo marxismo cultural (…). A fé em cristo significa hoje lutar contra o globalismo’.  No ensaio ‘Trump e o Ocidente’, em que trata o presidente americano como salvador e a ONU como expressão de uma era que tem de chegar ao fim, Ernesto escreve: ‘O presidente Trump propõe uma visão do Ocidente não baseada no capitalismo e na democracia liberal, mas na recuperação do passado simbólico, da história e da cultura das nações ocidentais’. Vamos vituperar contra o Unicef e celebrar a caça ao urso na Virgínia. Um dos momentos marcantes desse resgate, segundo o futuro ministro, que acredita na existência de um ‘Deus de Trump’, é um discurso que o presidente americano fez numa Polônia cujo establishment se identifica com a extrema-direita nacionalista. Parece-me que o samba do Ernesto dá prioridade à ideologia, não aos negócios. Clóvis Rossi foi ao ponto: é o Cabo Daciolo com alguns livros a mais”.

Reinaldo Azevedo então finaliza com seu diagnóstico: “se Bolsonaro mudar de ideia, aplaudo outra vez. Ele acerta quando recua e erra quando avança”.

Reinaldo Azevedo de chapéu. Foto: Reprodução/YouTube