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“Reivindicações legítimas das forças policiais têm sido usadas politicamente”, diz especialista

Ilona Szabó. Foto: Divulgação/Instituto Igarapé

Da BBC:

O Brasil registrou em 2019 o segundo ano consecutivo de queda no número de homicídios no país, mas a continuidade dessa redução está ameaçada pelos esforços do presidente Jair Bolsonaro em flexibilizar o acesso a armas de fogo e em concender “licença para matar” aos policiais, acredita a cientista política especialista em segurança pública Ilona Szabó, diretora do Instituto Igarapé.

Em entrevista à BBC News Brasil, Szabó atribui a redução dos assassinatos no ano passado principalmente às inovações de governos estaduais, “focadas em melhorar a segurança e enfatizar a prevenção”.

Embora o presidente e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, venham tentando puxar para si a responsabilidade pelo fenômeno, a especialista vê poucos resultados concretos da ação do governo federal que possam explicar o número menor de assassinatos, já que o pacote anticrime foi aprovado em versão enxuta no fim do ano e o principal programa de enfrentamento à violência, o “Em Frente, Brasil”, está presente em apenas cinco cidades do país.

“O que o presidente Bolsonaro fez para melhorar a segurança desde que assumiu o cargo no ano passado?”, questiona ela.

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BBC News Brasil – Enquanto os homicídios de forma geral recuaram 19% em 2019 no país para 41.635, segundo o Monitor da Violência do portal G1, estatísticas preliminares mostram novo aumento das mortes provocadas por policiais no ano passado. Na última semana, um motim de policiais no Ceará levou terror à população e o senador Cid Gomes (PDT-CE) acabou baleado ao tentar terminar com uma ocupação dirigindo uma retroescavadeira contra os manifestantes. A senhora considera que há um processo de aumento da violência e de radicalização das polícias no país? O que está por trás disso?

Ilona Szabó – Embora proibidas por lei, greves policiais são comuns no Brasil. Um estudo de José Vicente Tavares dos Santos, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mostra que houve 52 greves da polícia militar entre 1997 e 2017. A questão é que reivindicações legítimas das forças policiais têm sido usadas por associações politizadas ou representantes eleitos (até recentemente, principalmente no Poder Legislativo) para apoiar ou desafiar o poder político. Isso vem sendo exacerbado com o atual governo, já que membros das forças policiais estão entre os principais apoiadores de Bolsonaro.

A brutalidade policial é um indicador do autoritarismo de um país. Mais de 6,1 mil pessoas foram mortas pela polícia em 2018. Os números de São Paulo e Rio de Janeiro sugerem que 2019 foi ainda pior.

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