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Relação entre justiçamento e insegurança não é correta, diz especialista

Desde o fim de janeiro, quando um adolescente de 15 anos foi agredido e preso nu a um poste no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro, episódios dos chamados “justiceiros” passaram a chamar a atenção pelo Brasil.

Muitas vezes, tais atos são “justificados” com um suposto aumento da criminalidade, diante da qual o “cidadão comum” deve reagir. Mas, segundo Carolina Ricardo, coordenadora de Justiça e Segurança Pública do Instituto Sou da Paz, ONG de combate à violência, a relação entre justiçamento e insegurança não é correta.

Ela ressalta que nem sempre a percepção das pessoas corresponde à realidade. Na Bahia, por exemplo, onde houve um justiçamento recente, roubos caíram pela metade entre 2011 e 2012.

“Para diminuir essa percepção de violência, é muito importante que haja esclarecimento dos crimes e que isso venha a público. O Estado tem que mostrar que há uma investigação séria. Não de forma sensacionalista, mas prestando contas dos casos resolvidos. Sem isso as pessoas continuam com medo. E esse discurso da impunidade e falta de confiança no poder público, usado para justificar práticas de linchamento, segue forte”, diz ela.

Segundo a pesquisadora, o crime é “democrático”.

“Tendemos a achar que os crimes contra o patrimônio só atingem os mais ricos. Mas não é verdade. É um crime muito democrático. Em São Paulo, os bairros que mais concentram roubos de veículos estão na periferia. Gente pobre, batalhadora, que está pagando o seu celular em 20 vezes, vai ter o aparelho levado no ponto de ônibus a caminho do trabalho. E os roubos têm uma taxa de esclarecimento muito baixa, por isso precisamos melhorar a capacidade de investigação das polícias no Brasil.”

O homicídio choca muito, afirma ela, mas é um crime que se concentra nas regiões periféricas e pobres. Por isso pauta menos o debate público e acaba também afetando menos a percepção de segurança.

Entre 2011 e 2012, conta ela, os homicídios no país, de uma forma geral, cresceram, segundo o Anuário Estatístico do Fórum Brasileiro de Segurança Publica. Mas não de forma homogênea. O Acre aumentou 24%, por exemplo, enquanto Rio de Janeiro e Pernambuco conseguiram diminuir a taxa.

“Estados que tiveram políticas de controle mais eficientes, com campanhas de entrega de armas, apreensões e segurança de estoque, tiveram redução dos homicídios”, diz ela.

“Outro fator importante é a investigação. No Brasil a taxa de esclarecimento de homicídios é baixa, de 8%. Na Espanha, é de cerca de 80%. Uma vez, em Nova York, perguntei a um policial quantos inquéritos eram investigados. Ele sequer entendeu a pergunta. Para ele não havia a possibilidade de não investigar um crime registrado.”

Saiba Mais: DW