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Relator da denúncia da PGR contra Temer, Sergio Zveiter é irmão de advogado da Globo

 

O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), anunciou na terça-feira (4) que o deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) será o relator da denúncia do Ministério Público Federal contra Michel Temer.

Sergio é irmão de Luiz Zveiter, ex-presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), advogado da Globo e de carreira controvertida, como se vê nesse perfil da Agência Pública:

Rede Globo

A trajetória de Luiz Zveiter na comunidade forense começa no escritório de sua família, fundado por seu pai, Waldemar Zveiter, em 1957. Três anos depois de Luiz ter se formado em Direito, seu pai se tornaria desembargador do TJ do Rio, também pelo quinto. Em poucos anos, Luiz e seu irmão Sérgio assumiram a liderança do escritório e casos de grande repercussão nacional.

Mais de dez anos depois do pai, o advogado Luiz Zveiter, de 40 anos, se tornaria também desembargador. Seu nome aparecia nas páginas dos jornais desde o fim dos anos 1980, quando começou a assumir casos de grande repercussão de empresas como a Rede Globo e a construtora Wrobel – uma das mais importantes do Rio de Janeiro na época.

Foi ele quem, em 1989, defendeu Roberto Marinho no divórcio litigioso com Ruth Albuquerque, que discordava da parte que lhe cabia do patrimônio do magnata das comunicações. No mesmo período, defendeu também a Rede Globo em processo contra a TV Aratu. A empresa perdera o direito de repetir o sinal da Globo na Bahia ao ser preterida pela TV Bahia, que pertencia aos familiares de Antônio Carlos Magalhães, então ministro das Comunicações.

Na mesma época, Luiz Zveiter foi selecionado pelo presidente José Sarney, o mesmo que nomeara Antônio Carlos Magalhães ministro, para o posto de juiz do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), onde permaneceu entre 1988 e 1992. Foi também Sarney quem transformou o desembargador Waldemar Zveiter em ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em 1989.

Antes de se tornar desembargador, Zveiter já iniciara a carreira como auditor do órgão disciplinar ligado à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o STJD, do qual foi presidente pela primeira vez em 1995. Forçado a sair em 2005, deixou ali seu filho, o advogado Flávio Diz Zveiter, que iniciara sua carreira na instituição aos 19 anos, depois de sabatinado pelo pai, então presidente do órgão.

Zveiter foi também conselheiro federal da OAB e grão-mestre da Loja Maçônica do Estado do Rio – posto que ocupou duas vezes.

Em 2008, um juiz maçom, Josimar de Miranda Andrade, da 2ª Vara Cível de Nova Friburgo, condenou o promotor estadual Daniel Lima Ribeiro a indenizar Sérgio Zveiter em R$ 10 mil por danos morais. Segundo a ação, o promotor se manifestou de forma tendenciosa depois de ter denunciado irregularidades em contratos do escritório com o município e ter suas falas reproduzidas pela imprensa. A decisão foi confirmada em segunda instância, por desembargadores do TJ-RJ, e objeto de acordo no STJ. Ribeiro não foi encontrado para comentar o caso.

“Ele tem muito poder pelas circunstâncias”, avaliou a ex-corregedora Nacional de Justiça Eliana Calmon em entrevista à Pública.

A juíza aposentada relatou quatro processos contra o magistrado enquanto foi corregedora nacional de Justiça. Eliana Calmon atribui parte do poder de Zveiter à ligação de sua família com o maior grupo de comunicação do país, as Organizações Globo. A corregedora se lembra de ter participado de dois programas matinais da emissora, e também de ser entrevistada pelo jornal O Globo, mas diz que não tinha espaço em outros programas e canais da Globo. “Marcavam entrevistas e depois cancelavam”, disse. “Eu entendo que isso advém justamente da retaliação dele, Luiz Zveiter.”

No dia 17 de novembro, a ex-governadora do Rio Rosinha Garotinho disse à Rádio Gaúcha após a prisão de seu marido, Anthony Garotinho, que, antes de ser preso, o ex-governador entregara provas contra Zveiter e outras autoridades à Procuradoria-Geral da República (PGR); segundo nota da coluna do jornalista Lauro Jardim, o desembargador entrou com uma ação contra Rosinha por difamação. Em sua reprodução da entrevista, o G1, site da Globo, não incluiu o trecho em que Rosinha cita o magistrado.

Luiza Zveiter, filha do magistrado, é apresentadora da Globo News.

Em resposta à reportagem, o Grupo Globo enviou nota em que diz trabalhar “com um número grande de advogados contratados para as mais diversas tarefas”. Segundo a empresa, “a relação não cria com estes advogados vínculos da empresa além do objeto da contratação”.