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“Renan já está comigo”, diz Temer, que acusa: “As pessoas aqui têm desprezo pela Constituição”

Michel Temer deu mais uma entrevista aos amigos do Estadão:

Como o senhor avalia o fato de sua popularidade continuar tão baixa?

Eu tive a coragem e a ousadia de enfrentar temas que outros governos não tiveram. Estabelecer um teto para os gastos públicos é uma ousadia. Porque o que as pessoas mais querem quando chegam aqui é gastar. Para mim seria muito confortável chegar aqui e dizer vou desfrutar da Presidência, gastar à vontade, ainda mais eu que vou ter dois anos e oito meses de governo. Não fiz isso. Faço um parêntese importante. Porque a oposição é muito militante, muito ativa nessas matérias. Nos primeiros momentos da interinidade, era a tese do golpe. Quando começou a esmaecer, eles pegaram a PEC do Teto dos Gastos, que era a chamada “PEC da morte”.

Perderam o discurso do teto dos gastos. Daí qual foi o mote? Não deu a história do golpe? Não pegou a história da PEC da morte? Vamos pegar o ensino médio, e houve uma mobilização. A reforma do ensino médio foi aprovada com larga maioria e com aplauso popular. Depois, a oposição pegou a reforma trabalhista. “Vai acabar com o direito do trabalhador”. Aí nosso discurso: leiam a Constituição para ver que não tem nenhum direito a menos, pelo contrário, a tendência é criar emprego. Aí abandonaram a reforma trabalhista.

Menos o Renan Calheiros, presidente.

(Risos) O Renan agora já está comigo.

Que pressão e que troca-troca houve para esta mudança do Renan?

Nem pressão nem troca-troca.

Foi patriotismo, presidente?

Aí eu não sei, é uma questão subjetiva dele. Com muita naturalidade ele esteve aqui conosco, quando chamei todos os senadores do PMDB para discutir a reforma trabalhista. Ele esteve aqui, fez as observações dele e, convenhamos, até dezembro, janeiro, ele colaborou muito comigo. Vocês se lembram de que não havia uma reunião da base governista que não estivesse o Renan de um lado e o Rodrigo Maia do outro lado. Uma coisa, convenhamos, ímpar no sistema político brasileiro. A posição do Renan mudou no mês de março, abril, mas agora temos conversado, nós nos ajustamos. Aí, depende de conversa, de diálogo.

Dizem que é melhor tê-lo por perto, é isso?

Acho que vale a pena. É bom, é bom.

E tratar bem Alagoas ajuda também, não?

Claro, claro. Eu quero muito ajudar Alagoas porque o filho dele é uma bela figura também. Como tenho ajudado outros Estados. Nós temos uma federação falsa, os Estados têm uma autonomia pela metade. Vocês veem o que fizemos. Há mais de dois anos pleiteavam a negociação das dívidas. Já na interinidade eu chamei os governadores, conversamos, eu coloquei eles com o Meirelles, renegociamos as dívidas. Com a repatriação, compartilhamos com os Estados a multa.

Como o Renan mudou tão rapidamente?

Ele tem muita eficiência, muita sabedoria política. Num primeiro momento ele achou que as reformas trabalhista e da Previdência iam criar problemas, mas não se afastou de mim. Se afastou num primeiro momento, mas depois voltou. Voltou fazendo sugestões. Vamos ver essas sugestões. Agora a oposição pegou a reforma da Previdência, que realmente é o tema mais amargo. Não é uma luta de conteúdo, não é de exame técnico das questões. É uma luta política à qual eu respondo politicamente e com a demonstração de conteúdo. Eu tenho de reconhecer, é luta política, paciência, o que eu vou fazer? É legítimo, a democracia é assim.

(…)

O senhor já negou ser candidato em 2018. Qual papel terá na eleição presidencial? Será o fiel da balança?

Sabe que eu não sei dizer! Eu não sei como estarei. Penso que o governo estará bem e terei uma dificuldade porque, no sistema atual, com muitos partidos, tenho uma base com 23, 24 partidos, é evidente que muitos lançarão candidatos. Vejam a minha dificuldade: como é que eu vou agir neste período? Não sei, preciso esperar o momento oportuno, o momento das eleições para fazer esta avaliação.

Mas o senhor terá uma presença nas eleições.

É possível, é possível. Vai depender muito das circunstâncias. Se eu estiver bem, é claro que todos virão me procurar em busca de apoio. Se estiver mal, ninguém vai querer se aproximar. Não é assim a vida?

(…)

Não tem um custo alto para o governo manter ministros citados nas investigações da Odebrecht?

Não tem porque eu fiz um corte de acordo com a ordem jurídica. Se alguém se tornar réu (sai do governo)… Mas, mesmo assim, você sabe que o réu pode ser absolvido. Mas aí já avançou de uma tal maneira que não dá para ser mantido.

Mas tem um aspecto mais político do que jurídico. Acaba sendo uma marca do seu Ministério.

Mas que não diz respeito ao governo. Quando você vê um elenco de 300 nomes dos mais variados governos, governadores, prefeitos, você verifica que, a não ser que você amplie isso para toda a classe política, (que) aqui tem pessoas mencionadas que são da melhor qualificação administrativa, prestam um serviço extraordinário. É um custo-benefício que compensa.

(…)

Passada a reforma da Previdência, qual será o discurso da oposição?

Governo ilegítimo. Porque, na verdade, violou a Constituição. Aí eu remeto para o artigo 79 da Constituição. Nos Estados Unidos, qualquer pessoa ficaria corada se alguém dissesse que o vice-presidente não pode assumir no impedimento ou na ausência do presidente. Aqui não, as pessoas falam com uma impunidade. Volto a dizer, as pessoas aqui têm desprezo pelas instituições e pela Constituição Federal.

Que pessoas?

A oposição. Vão continuar com esta história de governo ilegítimo.

O ‘Fora, Temer’ morreu?

De vez em quando eu vejo com satisfação que uma ou outra pessoa ergue uma faixinha e se perde na multidão.

Mas nas redes sociais o ‘Fora, Temer’ o incomoda?

Tempos atrás eu li o artigo do Elio Gaspari, Fica, Temer. Não sei por que razão eu telefonei e ele me disse “o que que eu fiz?”. Eu respondi: você me convenceu a ficar. Aliás, ficou simpático este ‘Fora, Temer’. Eu acho que vou sentir falta.