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Reportagem da Folha mostra o submundo da empresa de disparos em massa contratada pela produtora da campanha de Bolsonaro

Chips usados pela empresa, no esquema disparo em massa

Reportagem de Patrícia Campos Mello, publicada hoje na Folha, descreve o submundo das empresas que criaram artifícios para fazer disparos em massa durante a campanha eleitoral.

Uma dessas empresas prestou serviços para uma produtora da campanha de Jair Bolsonaro.

As informações publicadas confirmam reportagem anterior, publicada logo depois da eleição.

A fonte da reportagem é o ex-funcionário de uma das empresas que prestavam esse tipo de serviço, a Yacows: Hans River do Rio Nascimento.

Ele entrou com ação trabalhista contra a Yacows e deu entrevista gravada à repórter, em que conta como era o esquema.

Também mostrou fotos e registros de conversas pelo whatsapp para confirmar o que dizia.

Para fazer os disparos, a empresa fazia uso fraudulento de CPFs de idosos.

Segundo seu relato, as empresas cadastraram celulares com nomes, CPFs e datas de nascimento de pessoas que ignoravam o uso de seus dados.

A fonte teria enviado à reportagem uma relação de 10 mil nomes de pessoas nascidas de 1932 a 1953 (de 65 a 86 anos) que, afirma, era distribuída pela Yacows aos operadores de disparos de mensagens.

A lei exige o cadastro de CPFs existentes para liberar o uso de um chip.

Como o WhatsApp trava números que enviam grande volume de mensagens para barrar spam, as agências precisavam de chips suficientes para substituir os que fossem bloqueados e manter a operação.

A Yacows funciona no mesmo endereço de outras empresas que prestam o mesmo serviço.

A Deep Marketing prestou serviços, entre outros candidatos, para Henrique Meirelles (MDB), que disputou a Presidência e declarou pagamento de R$ 2 milhões à empresa por “criação e inclusão de páginas da internet”.

A Kiplix trabalhou para a AM4, agência à qual Jair Bolsonaro declarou ao TSE pagamento de R$ 650 mil.

Depois da denúncia à repórter, o ex-funcionário que foi fonte da reportagem fez acordo com o antigo empregador e tentou voltar atrás.

Mas a Folha publicou seus relatos assim mesmo, com base nas entrevistas gravadas e na apuração já realizada.

Muitas das mensagens disparadas em massa atacavam a candidatura de Fernando Haddad e Manuela D’Ávilla.

Era conteúdo falso, como o de que Fernando Haddad confiscaria a poupança e as escolas distribuiriam mamadeira em formato de piroca.

Para fazer os disparos, eram usados robôs.

O professor de direito eleitoral Diogo Rais, da Universidade Mackenzie, ouvido pela reportagem, afirmou que o uso de robô pode ser enquadrado pela lei como pagamento indevido.

“Se o conteúdo das mensagens for falando mal de alguém, poderia até configurar crime eleitoral.”