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Safatle: “Bolsonaro espera esconder que seu ‘governo’ será a corrupção final do Estado brasileiro”

A Coluna de Vladimir Safatle na Folha de S.Paulo aborda os verdadeiros aspectos da corrupção e sua relação com Jair Messias Bolsonaro. “Os eleitores do sr. Bolsonaro gostam de se ver no interior de uma cruzada redentora contra a corrupção centenária do Estado brasileiro. Mas há de se perguntar se isso não é apenas um conhecido capítulo do sistema de autoengano que acomete setores da sociedade do país. Afinal, seria bom começar por se perguntar sobre o que significa, de fato, corrupção. Se aceitarmos que estamos a falar dos processos de apropriação privada do bem comum, teremos que admitir que se pratica corrupção de várias formas. Há os casos nos quais a corrupção será o desvio de fundos públicos por agentes privados, sejam eles indivíduos, associações ou partidos”.

E o filósofo desenvolve o raciocínio: “o autoritarismo corrompe o bem comum não apenas porque permite aos ocupantes do Estado desviarem fundos públicos (lembre-se dos casos Capemi, Coroa Brastel, Projeto Jari, Brasilinvest, Petropaulo, entre tantos outros que marcaram a ditadura). Ele corrompe o bem comum não apenas por fazer do Estado agente de assassinato, estupro, ocultação de cadáveres e tortura perpetrada por bandidos como o sr. Ustra, que Bolsonaro canoniza. Ele corrompe o bem comum porque saqueia a soberania popular. Para quem não sabe o que é saque da soberania popular, pergunte ao vice do sr. Bolsonaro, o general Mourão. O mesmo que sonha com uma nova constituição escrita não por representantes do povo, mas por ‘notáveis’. Ou perguntem ao general Villas Bôas, que costuma chantagear a sociedade civil a propósito de suas escolhas eleitorais enquanto aponta um revólver em nossa direção. Mas, além da tirania, há outra forma insidiosa de corrupção, a saber, a plutocracia, o governo dos ricos para a defesa incondicional de seus próprios interesses. A mesma plutocracia que Bolsonaro e seu ‘cérebro’ Paulo Guedes querem implementar de vez no Brasil”.

E Safatle então conclui: “enquanto cria polêmicas criminosas com homossexuais, negros e mulheres, Bolsonaro espera esconder que seu ‘governo’ será a corrupção final do Estado brasileiro, pois será a entrega final do bem comum à mesma elite que sempre governou o país, mas agora sem necessidade de intermediários e de negociação com outros setores. Sua defesa da reforma trabalhista significa quebrar toda força de defesa da classe trabalhadora contra a espoliação a que ela está normalmente submetida em suas ‘negociações’ com o patronato. Negociações nas quais os trabalhadores verão, de forma cada vez mais abertas, contratos que diminuem salários, benefícios, férias e direitos. Enquanto isso, o governo comandará caças a ‘kits gay’ inexistentes e organizará lutas contra ‘comunistas’ imaginários. Diante de corrupção dessa natureza, o que vimos até agora é nada”.

Safatle