Sakamoto: Com Sudeste sob lama, políticos passeiam de helicóptero e culpam vítimas

Da Coluna de Leonardo Sakamoto no UOL.
O rastro de mortes e destruição deixado pelas fortes chuvas que atingiram os Estados do Sudeste, no início deste ano, reforça o quanto temos gestores despreparados não apenas para lidar com catástrofes, como também para a mudança do clima e seus eventos extremos. São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e o Espírito Santo estão vivendo, neste momento, apenas um aperitivo do que será seu cotidiano a partir de agora. Mas ao invés de propostas e planos, o que se vê são desculpas e pirotecnia, de olho nas eleições municipais de outubro.
A contagem de corpos das chuvas aumentou consideravelmente, na madrugada desta terça (3), quando, ao menos, dez pessoas perderam a vida por conta dos deslizamentos de terra nos municípios de Guarujá, São Vicente e Santos (SP).
Diante da tragédia, parte dos administradores públicos sobrevoa de helicóptero as áreas afetadas – o que rende ótimas imagens para os telejornais e as redes sociais e passa a sensação de solidariedade, mas tem menos efeito prático do que medidas tomadas em gabinete.
Jair Bolsonaro fez isso, no dia 30 de janeiro, em Minas Gerais. Melhor seria se tivesse ficado no Palácio do Planalto e ordenado a seus ministros que interrompessem o velório de corpo presente da política brasileira contra mudanças climáticas. Contudo, essa agenda por aqui sofre com desdém, redução de pessoal e de recursos, além de um chanceler negacionista e um presidente que vê no desmatamento o símbolo do progresso.
Administradores públicos tentam provar, com ações de visibilidade, que estão preocupados e trabalhando, quando a própria tragédia mostra a falta de mecanismos de alerta e remoção de emergência de populações em áreas de risco, e, principalmente, da efetivação de políticas públicas de moradia, contenção de encostas, drenagem urbana, aumento da permeabilidade do solo.
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