Sakamoto: Tática de Bolsonaro é xingar jornalista quando não souber responder

Po Leonardo Sakamoto em UOL:
Quando Jair Bolsonaro é posto contra as cordas por perguntas de jornalistas que ele não sabe responder (ou sabe que sua resposta comprometerá ainda mais o governo), ataca o profissional e a imprensa. A comparação mais válida é com uma criança pequena que roubou o lanche da outra no recreio e, inquirida pelo coleguinha, diz que ele é bobo, feio e mal – sem responder aonde está o sanduba.
O presidente da República mandou, na manhã desta quinta (16), a repórter Talita Fernandes calar a boca. “Fora, Folha de S.Paulo, você não tem moral para perguntar, não”, afirmou. “Cala a boca”, disse à reportagem, pedindo questões de outros veículos. Temos um mandatário que não entende de administração econômica, mas é um sommelier de entrevista.
“Se foi ilegal, a gente vê lá na frente. Mas, pelo que vi até agora, está tudo legal, vai continuar. Excelente profissional. Se fosse um porcaria, igual alguns que tem por aí, ninguém estaria criticando ele”, disse Bolsonaro em frente ao Palácio da Alvorada.
À noite, ele voltou à carga. Questionado pela Folha se sabia dos contratos assinados pela empresa de Wajngarten, respondeu “Está falando da tua mãe? Você está falando da tua mãe?”.
Esse comportamento se repete ad nauseam. No dia 20 de dezembro, ao ser inquirido por jornalistas a respeito da investigação sobre peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa envolvendo seu filho Flávio e seu brother de longa data Fabrício Queiroz, Bolsonaro resolveu tratar da sexualidade de jornalistas, novamente na frente do Alvorada.
“Você tem uma cara de homossexual terrível, nem por isso te acuso de ser homossexual, se bem que não é crime ser homossexual”, afirmou para o delírio de uma claque de fãs. Após um jornalista perguntar sobre comprovantes de transações que envolviam Queiroz e sua família, disse: “Ô rapaz, pergunta pra tua mãe o comprovante que ela deu pro teu pai, tá certo?”
Os ataques não se resumem a enxurradas de críticas, o que faria parte do debate público. Hordas bolsonaristas instigadas por suas falas, invadem a vida privada dos profissionais, distorcendo fatos, expondo dados pessoais, ameaçando famílias. Por vezes, transborda a rede e vai para a rua, para o restaurante, para a porta da casa.
Caberá à sociedade decidir se quer uma imprensa livre, mesmo que discorde dela, e sair em sua defesa. Ou está satisfeita com a proposta colocada à mesa nas últimas eleições: substituir a pluralidade e o contraditório por uma “Verdade” distribuída por lives no Facebook ou em posts no Twitter pelo chefe do Poder Executivo. Uma verdade rasa que esconde um profundo vazio.