São Paulo desrespeita regra federal e não reporta nascimento de bebês com microcefalia
Do El Pais:
No último boletim divulgado pelo Ministério da Saúde com casos suspeitos de microcefalia no Brasil, o Estado de São Paulo aparece com apenas 18. O número real de casos da condição no território paulista, entretanto, foi quase 12 vezes maior apenas em 2015, já que os municípios paulistas registraram a existência de 210 casos de microcefalia – 159 deles de crianças nascidas nos meses de novembro e dezembro, apontam dados obtidos pelo EL PAÍS. O fator pode indicar que a epidemia já chegou a São Paulo, ao contrário do que se imaginava até o momento. O boletim do ministério, com dados até o último 16 de janeiro, relata a existência de 3.893 casos suspeitos de microcefalia no país.
A discrepância entre os dados ocorre porque o Estado não notifica todos os nascidos com suspeita de microcefalia, como orienta o Ministério da Saúde e como fazem Estados como Pernambuco, Paraíba e Bahia, os três que aparecem na dianteira de casos no último boletim. São Paulo informa apenas os casos suspeitos em que a mãe teve alguma indicação de ter contraído o zika vírus: apresentaram manchas vermelhas pelo corpo na gestação, tiveram exames negativos para outros vírus que podem causar a microcefalia e os bebês nasceram com o perímetro cefálico menor do que 32 centímetros, segundo informou a própria Secretaria Estadual da Saúde.
Contudo, uma nota informativa do Ministério da Saúde, divulgada em 17 de novembro, orientava Estados e municípios a informarem todos os casos de microcefalia, sem importar qual a causa suspeita. No último boletim divulgado, o órgão reforça a orientação. A conduta é a ideal porque, primeiro, em 80% dos casos as pessoas que contraem zika não apresentam qualquer sintoma, nem mesmo as manchas vermelhas usadas como critério por São Paulo, e, por isso, notificar apenas os casos em que a mãe teve as marcas pode trazer uma enorme subnotificação de casos; e, segundo, porque os dados são importantes para se avaliar se é o zika a real e única responsável pelo aumento de casos o país. A falta de padronização na notificação também dificulta a realização dos estudos e das ações de saúde pública a serem tomadas.