“Sergio não aceitou o cargo de ministro pensando na vaga do STF”, diz Rosângela Moro

Sérgio e Rosângela Moro quando o ex-juiz ganhou prêmio na Revista Time. Foto: AFP

De Laryssa Borges na Veja.

Sergio Moro ainda desfrutava prestígio com o presidente Jair Bolsonaro quando a advogada Rosangela Moro, com quem o ex-juiz está casado há 21 anos, começou a rascunhar lembranças do que vivia e presenciava ao lado daquele que foi o ministro mais popular do governo — hoje desafeto declarado do presidente e odiado por antilava-jatistas e bolsonaristas. Dessas primeiras anotações, surgiu a ideia de retratar, em livro, o que ela chamou de Os Dias Mais Intensos: Uma História Pessoal de Sergio Moro (editora Planeta, 44,90, reais), uma reflexão de como os meandros de Brasília marcaram em definitivo a vida do casal. Desde convites para cargos nada relacionados à sua atividade profissional — episódios que, em retrospectiva, poderiam indicar tentativas de cooptação — até o dia em que teve uma síncope nervosa depois da publicação de um vídeo que simulava o sequestro da filha mais velha, Rosangela detalha suas impressões sobre a Operação Lava-­Jato e conta bastidores inéditos do poder, como quando Bolsonaro, em plena pandemia, tirou satisfação com Moro por causa da defesa que a esposa fazia da ciência. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida a VEJA em Curitiba no apartamento para onde a família se mudou recentemente, por questões de segurança, após a saída de Moro do governo.

Em seu livro, a senhora reclama de que o capital político do ex-juiz Sergio Moro incomodou e incomoda algumas pessoas. A quem se refere? Sergio sempre rechaçou essa história de celebridade. Ele é amado e odiado, e me causava surpresa imaginar que esse protagonismo dele pudesse incomodar as pessoas, porque ele não foi para o governo para ser um rosto conhecido. Ele acreditou que os aprendizados da Lava-Jato poderiam ser sedimentados no governo, mas percebeu que parecia que o protagonismo dele incomodava.

Incomodava o presidente Bolsonaro? Havia um incômodo de algumas pessoas do governo, do presidente inclusive.

Moro foi acusado pelo presidente de ter tentado barganhar uma vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Sergio não aceitou o cargo de ministro da Justiça pensando na vaga do Supremo. Em agosto do ano passado, quando o presidente falou em trocar o diretor-geral da Polícia Federal, entendi que o Sergio não interessava mais para o governo. Meu sexto sentido dizia que ele não iria durar muito tempo no cargo. Quando o general Santos Cruz e o ex-ministro Gustavo Bebianno, que eram da relação pessoal do presidente, foram mandados para a guilhotina, eu disse ao Sergio: “A guilhotina vai chegar para você também. É só uma questão de tempo”. Esse sentimento de “guilhotina” foi crescendo. Tenho convicção de que o presidente não o nomearia para o STF.

É fato que amigos se afastaram de vocês durante a Lava-Jato? Alguns amigos se afastaram achando que a Lava-Jato atingia só o PT, o que não é verdade. Como o PT era o partido que estava administrando a máquina, as pessoas mais beneficiadas por atos não republicanos obviamente eram petistas. Ninguém iria montar um esquema de pagamento de propina dentro do governo para beneficiar a oposição. Acusar a Lava-Jato de golpista é uma narrativa criada pelos próprios investigados. Não guardo remorso nem rancor desses amigos que se afastaram e que foram imantados pela narrativa do PT. Esse negócio de brigar, discutir em rede, não leva a nada. Acho que todo mundo deve ser respeitado. É isso que falta ao nosso país.

(…)

Pedro Zambarda de Araujo

Escritor, jornalista e blogueiro. Autor dos projetos Drops de Jogos e Geração Gamer, que cobrem jogos digitais feitos no Brasil e globalmente. Teve passagem pelo site da revista Exame e pelo site TechTudo. E-mail: pedrozambarda@gmail.com

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