“Sistema quadrilheiro”, diz Janio de Freitas sobre o escândalo do MEC no governo Bolsonaro

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Na coluna escrita para a Folha de S.Paulo, neste domingo (26), Janio de Freitas declarou que, o escândalo do MEC, no qual foi revelado que Jair Bolsonaro (PL) informou o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro sobre a operação da Polícia Federal, escancara “um sistema quadrilheiro” que atua no atual governo federal.
“É um sistema quadrilheiro que começa a desvendar-se. Ficam bem à vista duas estruturas que têm a Presidência da República como elo entre elas. Uma age dentro da administração pública, em torno dos cofres, e reúne pastores da corrupção religiosa, ocupantes de altos cargos e políticos federais e estaduais”, escreveu o colunista.
“A outra age do governo para fora, na exploração ilegal da Amazônia, em concessões injustificáveis, e em tanto mais. Duas estruturas independentes que se conectam na mesma fonte de incentivos, facilitações e proteção para as práticas criminais”, acrescentou.
Ele fez uma análise das dificuldades para a Polícia Federal realizar uma investigação no Brasil. “Uma das várias dificuldades iniciais para avançar com a investigação está na própria PF, em que se confrontam a polícia de policiais e a polícia de delinquentes (por comprometimento político ou não). O embate público dos dois lados apenas começou, com a certeza de que o aviso dado por Bolsonaro partiu da PF contra a PF e, preso o ex-ministro, com ações a protegê-lo”, opinou.
“É imprevisível o que se seguirá no confronto de extrema gravidade: sem uma limpeza no quadro de chefes de inquéritos, a confiança na PF dependerá de saber, como preliminar, se a ação policial é de policiais ou de delinquentes. E não é fácil sabê-lo”, acrescentou.
Ele destacou que o diretor-geral da PF, delegado Márcio Nunes de Oliveira, e o ministro da Justiça, Anderson Torres, sabiam da operação. Ainda relembrou que Torres estava com Bolsonaro nos Estados Unidos, quando Milton Ribeiro recebeu o telefonema do presidente da República.
Milton acabou sendo preso, na última quarta (22), na operação “Acesso Pago”. O trabalho da PF investiga supostos pagamentos de propina e ação de lobistas no processo de liberação de verbas do MEC a municípios. Foram feitos quatro mandados de prisão e 13 mandados de busca e apreensão.
Na quinta (23), o ex-ministro saiu da carceragem da PF depois da decisão do desembargador Ney Bello, do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região). Os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura também foram soltos.
Na sexta (24), a GloboNews revelou que Milton ligou para a sua filha e contou que recebeu informações de Bolsonaro sobre uma possível ação da Polícia Federal.
“A única coisa meio… hoje o presidente me ligou… ele tá com um pressentimento, novamente, que eles podem querer atingi-lo através de mim, sabe? É que eu tenho mandado versículos pra ele, né?”, declarou Ribeiro.
“Ele quer que você pare de mandar mensagens?”, perguntou a filha. “Não! Não é isso… ele acha que vão fazer uma busca e apreensão… em casa… sabe… é… é muito triste. Bom! Isso pode acontecer, né? Se houver indícios, né?”, explicou o ex-ministro.